São Paulo (AUN - USP) -Nem sempre os pais estão preparados para lidar com o medo e as dúvidas que tomam conta das crianças internadas no hospital. Algumas atitudes comuns, como silenciar sobre o tratamento, contar versões fantasiosas ou se sentir culpado pela doença do filho podem tornar a recuperação mais difícil. A presença de um psicólogo por perto no hospital é útil, especialmente para os pequenos.
Cientes de que uma mente sadia contribui para uma recuperação rápida do corpo, hospitais públicos e privados vêm investindo na contratação de psicólogos para atender a família e o paciente. O suporte começa no período preparatório para tirar dúvidas e ambientá-los às mudanças e prossegue durante a internação.
“O atendimento contribui para tornar o ambiente mais agradável e amenizar o sofrimento e a ansiedade da criança”, explica Andréa Dorea, psicóloga hospitalar do Instituto do Coração (InCor), vinculado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e mestranda do Instituto de Psicologia da USP (IP-USP). No InCor, Andréa trabalha com crianças com cardiopatias congênitas ou adquiridas, cujo tratamento depende de transplantes ou intervenções cirúrgicas corretivas.
Ela observa que trazer objetos familiares para o quarto do hospital, organizar atividades de terapia com brinquedos e criar situações para os pequenos se manifestarem acalma o ambiente e favorece uma operação mais tranqüila. Segundo Andréa, a criança expressa seus sentimentos e valora situações importantes através do lúdico. “No hospital é comum elas quererem brincar de médico, com a criança representando o cirurgião e a psicóloga o paciente. É um meio de inverter os papéis e aliviar a ansiedade”, pondera.
Os pais são recomendados a serem sinceros com seus filhos, pois a falta de conhecimento pode gerar fantasias persecutórias nas crianças. “Elas podem achar estão sendo punidas, que fizeram algo errado e por isso estão sendo levados para o hospital”, diz. “Desde pequenas as crianças conseguem entender e, informadas, a operação ocorre mais tranqüila”.
Andréa orienta os pais a não descuidarem dos outros filhos durante a internação, que podem se sentir negligenciados e apresentar sintomas físicos como febre e mal-estar. Não é um período fácil, pois a família se divide entre o filho doente e os que estão em casa e a mãe acaba sobrecarregada. “Sugerimos que os pais dêem ouvidos aos outros irmãos e os informem sobre o que está acontecendo, para que eles participem do tratamento no hospital”, diz. O efeito psicológico em irmãos saudáveis de crianças com cardiopatias, aliás, é o tema de pesquisa que Andréa desenvolve no Mestrado.
O apoio especializado também é importante para os pais expressarem suas angústias e medos. Segundo Andréa, é comum os pais criarem a fantasia de que poderiam ter gerado crianças perfeitas, o que alimenta a culpa e pode projetá-la para o companheiro ou para o médico. “Quando isso não é bem resolvido os pais podem desenvolver síndromes de superproteção, na qual a criança não se acostuma a ouvir não e acaba enfrentando dificuldades para tolerar a frustração”, diz.