São Paulo (AUN - USP) -Você saberia responder o que acontece com as latinhas de cerveja e refrigerante vazias depois que as jogamos na lixeira rotulada de “lixo reciclável”? Garrafas PET, embalagens de plástico, vidro e papel, jornais e revistas também são classificados como material reciclável, mas poucas pessoas conhecem o destino do lixo separado. O professor Américo Sansigolo Kerr, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP) chama a atenção para a questão dos malefícios que a reciclagem pode causar ao meio ambiente.
De preocupação ecológica, a coleta de lixo reciclável tornou-se fonte de renda no Brasil. Mais do que um índice de consciência ambiental, o volume de latinhas recicladas hoje no país é um indicador da pobreza que assola as cidades. Lembrando que estamos em um lugar onde se dá um jeitinho para tudo e que a falta de dinheiro é ponto comum entre a grande maioria, era de se esperar que os métodos de reciclagem brasileiros seguissem a regra do mais lucrativo possível. “Para tirar as tintas e preparar as latinhas para a reciclagem, algumas pessoas usam produtos baratos, mas extremamente agressivos ao meio ambiente”, alerta o professor Américo. Economizando na qualidade dos produtos químicos utilizados na limpeza e no processo de reaproveitamento é possível tirar um dinheirinho a mais do lixo, porém com o sacrifício do planeta.
Se feito de maneira inadequada, o ato de reciclar pode resultar em um “balanço ambiental” negativo. A água limpa usada na reciclagem de papel, por exemplo, pode voltar contaminada ao rio, em nome da vida de uma árvore que fora destinada à fabricação de celulose desde quando foi plantada. “Não se faz papel de floresta; não faz porque não dá”, diz o professor ao afirmar que a produção de papel não contribui para o desmatamento. “Quando você vai reciclar o papel, dependendo do método pelo qual você recicla, agride ainda mais ao meio ambiente”, afirma.
Entretanto, quando bem cuidada, a reciclagem é viável. O professor Américo atenta à necessidade da colaboração dos designers de embalagens para facilitar os processos que possibilitam o reuso dos materiais. Caixas que colam plástico e papel, como ocorre comumente com embalagens de comidas congeladas, dificulta a separação. “O seletivo é tanto mais eficiente quanto mais você conseguir separar, porque o maior custo do reaproveitamento de lixo é você conseguir separar”, diz Américo.
Atitudes ordenadas, como a do Mutirão do Lixo Eletrônico, realizado no Estado de São Paulo no mês de outubro deste ano, são louváveis, mas é preciso que haja uma atenção especial também ao lixo do dia-a-dia. Separá-lo não é suficiente para ter a consciência ambiental limpa. É preciso conhecer o destino desse lixo, o que só é possível mediante a regularização do trabalho dos catadores que dependem dessa renda para viver. Além disso, não basta separar. Antes, é preciso entender que o intuito primordial deve ser não produzir lixo. Lixo é desperdício, quanto menos, melhor. Saquinhos plásticos de supermercado podem ser substituídos por sacolas duráveis; alimentos in natura economizam o uso de embalagens de plástico ou papel, além de serem mais saudáveis.
O brasileiro precisa entender que o lixo é um problema, não uma solução financeira. Polui e gera gasto de dinheiro e energia. A ordem é não produzir, mas, quando houver, que seja tratado com consciência. “O item primeiro é não fazer [o lixo]; depois, quando faz, facilitar a separação; terceiro, a separação deve ser o mais especiada possível”, conclui o professor.