ISSN 2359-5191

16/08/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 14 - Economia e Política - Instituto de Física
Seminário discute métodos da física aplicados ao mercado financeiro

São Paulo (AUN - USP) - O seminário “Físicos ‘jogando dados’ para determinar o valor de empresas”, que aconteceu recentemente, no Instituto de Física da USP, discutiu alguns dos métodos da Física que podem ser aplicados ao mercado financeiro. Marcelo Sardelich, físico pela Universidade de São Paulo, que trabalha atualmente no Banco Bilbao Vizcaya Brasil, foi convidado para apresentar o assunto.

Muitos são os conceitos de Física aplicáveis em Finanças. Um exemplo importante a ser citado refere-se à área de avaliação de risco, em que são usados modelos de árvores de decisão. Esses modelos mapeiam as chances que um evento tem de acontecer ou não. Por exemplo, a de um cliente de banco pagar um cartão de crédito ou não: enumeram-se as possibilidades, baseadas no próprio histórico do cliente, no seu saldo disponível, investimentos pessoais, e avaliam-se os riscos. Marcelo explica que modelos como esses não são puramente matemáticos porque se preocupam em simular a situação, fazendo o estudo das possibilidades.

O título do seminário, “Físicos ‘jogando dados’ para determinar o valor de empresas”, faz uma brincadeira com a célebre frase determinista de Albert Einstein, “Deus não joga dados com o Universo”, proferida pelo físico para asseverar sua crença na constante possibilidade de se elaborar uma equação capaz de prever os eventos de qualquer ação, sem a necessidade de descrições estatísticas. Sardelich quis transmitir a noção de que, em Finanças, muitas das teorias são estatatísticas, e que os físicos estariam sim “jogando dados” para determinar o valor de empresas, utilizando o principal método abordado no seminário, o Método Monte Carlo.

O Método Monte Carlo, cujo nome remete sugestivamente ao Cassino de Monte Carlo, é o “tratamento estatístico dos eventos e configurações que um sistema pode apresentar”. É um conceito emprestado da Física aplicado ao mercado para se determinar o valor de uma empresa ou de uma negociação. Para sua aplicação, levam-se em conta os mais variados aspectos que configuram uma empresa, como quantos clientes ela pode ter, como é sua estrutura de custos, qual sua relação de crescimento, associada ao crescimento do PIB do país, etc. “A idéia”, esclarece Sardelich, “é prever que valor se pode atribuir à empresa, e este vem da perspectiva de lucro (caixa) que ela pode ter”. A partir dessa base pode-se estimar o valor das ações dessa empresa.

Na apresentação, utilizou-se como ilustração a especulação em torno do setor de tecnologia, na época do boom da internet, e as dificuldades de avaliação da cotação das empresas desse segmento. Por serem empresas inseridas há pouco tempo no mercado, existiam poucos dados para se fazer estimativas de lucros e avaliação de seu valor. “O que aconteceu no início de 2000 foi que seis das dez maiores firmas em capitalização de mercado eram do setor de tecnologia. Incrivelmente quatro das seis não existiam no mercado 25 anos antes”, demonstra Sardelich em sua exposição.

Ocorreu então o fenômeno que em economia é denominado “bolha especulativa” definida no seminário como “quando os investidores pagam no presente por uma ação um valor bem acima de seu valor fundamental, crendo que no futuro poderão vendê-las por um preço muito mais alto, isto é, se a bolha continuar crescendo. Um dia a crença em encontrar alguém que pague mais alto acaba, e as ações voltam ao seu estado fundamental”. As empresas de tecnologia ainda são um grande desafio para a avaliação de valor, estando mais ativas do que nunca. No mercado financeiro “tudo é risco”, mas a aplicação de conceitos matemáticos e físicos são uma segurança para nortear os investimentos.

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