ISSN 2359-5191

16/08/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 14 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Biomédicas da USP sedia palestra sobre ação dos ácidos graxos

São Paulo (AUN - USP) - Já dizia a sabedoria popular que a boa alimentação é o melhor remédio contra doenças. Pesquisas comprovam que os esquimós são exemplos vivos dessa afirmação. Isso porque eles têm uma dieta rica em peixes de águas geladas, que contém um ácido graxo chamado ômega-3, com grande poder antiinflamatório natural.

Com esse exemplo, Philip C. Calder, renomado professor e pesquisador de Imunologia Nutricional da Escola de Medicina da Universidade de Southampton, Inglaterra, abriu sua palestra no Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). O evento foi organizado pelo professor Rui Curi, titular do departamento e líder do grupo de pesquisa “Metabolismo Celular e sua Regulação”, que segue linha semelhante à do pesquisador inglês. A empresa de compostos nutricionais Nuteral, a Fapesp e o CNPQ apoiaram o evento.

“Temos os mesmos interesses na pesquisa: como as células do sistema imune funcionam, utilizam energia e como os nutrientes, especificamente os ácidos graxos, afetam o seu funcionamento. Isso nos permitiu fazer muitas descobertas, nesses quase 15 anos de trabalho em conjunto” afirma Philip.

A principal diferença entre os dois grupos de pesquisa é que Calder age em hospitais, no tratamento e cura de doenças, enquanto que o grupo de Rui está mais envolvido com o estudo de células do sistema imune (macrófagos, linfócitos e neutrófilos) em cultura e em cobaias. “Trabalhamos em paralelo, mas o objeto de pesquisa é o mesmo: a ação antiinflamatória dos ácidos graxos”, declara Rui.

Muito mais que simples nutrientes ou constituintes da arquitetura celular, os lípides, dos quais fazem parte os ácidos graxos como os polinsaturados ômega-3, são substâncias com variadas e potentes atividades biológicas. Por exemplo, o colesterol age como inibidor de sua própria síntese. Alguns outros lípides, por sua vez, têm função estrutural, como a de compor a membrana de células.

Quando o organismo é invadido por antígenos, desencadeia-se um processo inflamatório. A partir daí, as células do sistema imune, como os monócitos, macrófagos e neutrófilos, passam a produzir substâncias para combater a inflamação, como o ácido araquidônico.

Porém, algumas vezes e em certas doenças, as células produzem grande quantidade dessas substâncias, podendo trazer prejuízos ao corpo, já que são tóxicas ao organismo. “O sistema imune, quando funciona mal, pode ser até mais perigoso do que bactérias ou vírus”, afirma Calder.

O ácido graxo omega-3 tem o poder de parar esse processo ou, ao menos, diminuir a taxa de produção dessas substâncias tóxicas circulantes no organismo, do mesmo modo que agem algumas drogas anti-inflamatórias. Isso se dá através da interferência do Omega-3 sobre o metabolismo das células aceptoras, bem como sobre a expressão de citocinas e outras funções celulares.

Dessa forma, doenças desencadeadas por inflamação, como as cardiovasculares, e a artrite reumática podem ser prevenidas com o consumo de ômega-3, encontrado sobretudo nos óleos de peixes e também adicionado a produtos industrializados, como leite e bolachas.

A contribuição científica do grupo de pesquisas do ICB é extremamente importante, por estudar a fundo a fisiologia do processo. “Descobrimos que algumas células produzem lipídes, como o colesterol, os fosfolípides e ácidos graxos livres, como o omega-3 e os transferem para outras células, inclusive para as do sistema imunológico. Pesquisamos agora como esse mecanismo de transferência ocorre”, diz Curi.

“As descobertas dessas pesquisas são importantes para a saúde pública, pois se pode recomendar o uso de terapias nutricionais, quando os componentes do sistema imunológico e inflamatório estão abaixo ou acima de sua atividade normal”, finaliza Philip.

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