São Paulo (AUN - USP) - A adolescência é uma fase de mudanças físicas, sociais e psicológicas. Sabe-se que um grande número de adolescentes apresenta distúrbios comportamentais, mas compreender esses problemas é um desafio para profissionais da saúde mental. Segundo a professora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, Edwiges Silvares, é preciso conhecer o perfil do paciente para oferecer um tratamento que satisfaça suas necessidades.
Pensando na falta de instrumentos brasileiros elaborados para avaliar especificamente os comportamentos de adolescentes, a psicóloga Marina Monzani da Rocha, aluna de pós-graduação da Psicologia da USP, adaptou para a realidade brasileira um questionário desenvolvido nos Estados Unidos e traduzido para outros 67 idiomas. O “Inventário de Auto-Avaliação para Jovens de 11 a 18 anos”, versão brasileira do questionário, apresenta perguntas sobre as competências comportamentais e os problemas que os jovens podem apresentar, de maneira que o próprio adolescente possa fornecer informações sobre como ele se sente ou se comporta em diversos contextos.
Atualmente, as respostas dos adolescentes são avaliadas com base na realidade de jovens americanos. Entretanto, Marina ressalta a importância de padronizar o instrumento para a cultura na qual ele será utilizado. Assim sendo, além de ser traduzido, o inventário precisa ser adequado à realidade do jovem do Brasil. Para isso, foi feita uma ampla coleta de dados com mais de 4000 adolescentes de 12 cidades, englobando 4 das 5 regiões brasileiras. Colaboradores da pesquisa aplicaram questionários a jovens que buscam atendimento em clinicas e a alunos de escolas públicas e particulares. Segundo Marina, os adolescentes geralmente gostam de participar da pesquisa e a maioria responde de forma franca. As respostas dos dois grupos de adolescentes serão comparadas para verificar se o inventário é capaz de diferenciar os adolescentes que precisam de atendimento psicológico daqueles que apresentam comportamentos dentro do esperado para sua faixa etária e sexo, o que indicará que o uso do inventário é válido no Brasil.
A conclusão do processo de validação está prevista para fevereiro de 2011. Depois, o questionário será apresentado ao Conselho Federal de Psicologia, órgão responsável por liberá-lo para uso. A liberação é esperada para 2012.
O inventário será uma ferramenta importante de triagem para que o psicólogo tenha de antemão diversas informações sobre o adolescente encaminhado para atendimento psicológico, a partir de seu próprio ponto de vista. Possibilitará a obtenção de informações que dificilmente apareceriam em uma primeira conversa com o paciente e que podem ser bastante relevantes para a elaboração do diagnóstico. Se aplicado nas diversas fases do tratamento psicológico, servirá como instrumento de medida da evolução do paciente. E, por fim, quando aplicado à população em geral, fornecerá informações relevantes sobre as características populacionais ao apontar problemas de comportamento que aparecem com maior freqüência na população adolescente brasileira.
O “Inventário de Auto-Avaliação para Jovens de 11 a 18 anos”, assim como questionários de avaliação comportamental voltados para outras faixas etárias, é disponibilizado para uso pela professora Edwiges Silvares pelo e-mail efdmsilv@usp.br.