São Paulo (AUN - USP) - No CAPE (Centro de Atendimento a Pacientes Especiais, da Faculdade de Odontologia da USP)são atendidos atualmente 120 pacientes portadores da Síndrome de Moebius. Além da falta de expressões de emoção, os pacientes afetados apresentam ainda um risco aumentado para cárie por não mexerem a boca, má oclusão bucal e ausência de movimentos bilabiais.
Trata-se de uma paralisia facial congênita, que pode ser total ou parcial. A síndrome atinge os nervos faciais e abducentes que afetam, respectivamente, os movimentos de expressão facial e dos olhos. Não se sabe com precisão quais são as causas, no entanto, estudo publicado no Brasil, em 1996, indica que a doença pode estar relacionada com a tentativa de aborto usando misoprostol (conhecido como Citotec). Dos pacientes atendidos no CAPE, 84% das mães relataram uso do misoprostol durante a gestação.
Em novembro de 2008, oftalmologistas, neurologistas, psicólogos, geneticistas e dentistas realizaram um mutirão na Santa Casa de São Paulo com pacientes que sofrem da síndrome de moebius. A equipe de dentistas, liderada pela professora Dra. Marina Magalhães, da Faculdade de Odontologia da USP, pesquisou dentre os pacientes as manifestações bucais da síndrome, incluindo a doença nas articulações temporomandibulares (ATMs).
Durante dois dias foram atendidos 44 pacientes e, através de testes clínicos, chegou-se a conclusão de que 53% deles já tinham desenvolvido na fase infantil problemas nas ATMs – o que é raro em crianças sem a síndrome. Essa disfunção se caracteriza por dores e estalos na região mandibular ao abrir e fechar a boca. Essa pesquisa se mostra importante por permitir que os dentistas antecipem esse problema em pessoas portadoras da síndrome, podendo, assim, realizar um tratamento preventivo – como um tratamento ortodôntico. Além dos problemas nas ATMs, foi constatado que cerca de 90% desses pacientes têm também línguas disformes, diminuição na abertura de boca e perfil convexo.
A síndrome de Moebius não tem cura, tratam-se apenas as complicações decorrentes dela. Parte do tratamento pode incluir uma cirurgia de transposição de nervos e músculos – realizada por um cirurgião plástico – que permite que o paciente consiga sorrir.