ISSN 2359-5191

01/05/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 15 - Meio Ambiente - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Crise não afeta a preocupação socioambiental das empresas
Estudiosos afirmam que o consumo de produtos “sustentáveis” não diminuiu nos últimos meses

São Paulo (AUN - USP) - A crença de que a crise financeira mundial atrapalharia os esforços das empresas na questão socioambiental está sendo desmentida pelas tendências atuais de consumo. Em debate promovido pelo pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), comandado pelo professor da Unidade, Ricardo Abramovay, houve o consenso de que a importância da questão ambiental já está consolidada em todos os setores da economia e a situação econômica dos últimos meses não mudou em nada esse panorama.

Participaram também da discussão Sylvia Saes, professora da FEA, o norte-americano Michael Conroy, ex-professor de Economia da Universidade do Texas, e Roberto Waack, presidente do Conselho Internacional da FSC (Forest Stewardship Council – Conselho de Gerenciamento de Florestas), organização que fornece selos de qualidade socioambental a produtores de madeira. O principal ponto abordado pelos debatedores foram as vendas dos produtos com “certificados de qualidade socioambiental”, uma garantia ao consumidor de que a produção foi feita de maneira sustentável, de acordo com as leis do “comércio justo”, e com condições de trabalho legais.

Conroy afirma que o temor de que os produtos “sustentáveis” vendessem menos na crise era fundamentado numa provável cautela do consumidor em pagar por uma mercadoria mais cara (o custo de produção dos “sustentáveis” é maior). Porém, segundo ele, os esforços das empresas a favor desses produtos antes da crise já fizeram com que a mentalidade dos compradores mudasse. Nos últimos anos, empresas como McDonald’s e Starbucks associaram-se a organizações que fiscalizam a produção de café e nenhuma delas demonstra recuar de suas intenções, tampouco os consumidores. “A sustentabilidade não é uma barreira em época de crise”, conclui.

A opinião do norte-americano é compartilhada por Waack, que apresentou dados da FSC confirmando que a área de produção de madeira sustentável monitorada pela organização está crescendo no mesmo ritmo, apesar da crise. Ele diz que as empresas querem associar suas marcas à sustentabilidade, até porque sabem que isso está atraindo cada vez mais os consumidores. “O desafio é fazer com que a produção nas áreas certificadas aumente tanto quanto a demanda por esses produtos”, reitera Waack.

Sylvia Saes, no entanto, ponderou que, para a maioria dos consumidores, principalmente os brasileiros, os certificados socioambientais ainda são praticamente desconhecidos. Também questionou se é realmente benéfica a entrada de grandes empresas no chamado “comércio justo”. “Essas multinacionais acabam ganhando ainda mais espaço nesse mercado, ofuscando a participação dos pequenos produtores, que deveriam ser os grandes beneficiados pelo comércio justo”, afirma a professora da FEA.

Ao finalizar o debate, Abramovay aproveitou para refletir sobre o modo que a economia está sendo vista pela sociedade e pela própria Universidade. Segundo ele, a conexão entre a crise econômica e a luta pela sustentabilidade demonstra o quanto “os mercados podem ser palco de discussão e participação política”. O professor, que lançou, no último dia 27, o livro “Biocombustíveis: a energia da controvérsia”, acrescenta: “Os mercados se estabilizam a partir da estabilização das forças sociais. Temos que parar de pensar a economia como um mecanismo fechado e sem intervenção social. Estamos ensinando ficção científica a nossos alunos”.

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