São Paulo (AUN - USP) - As diferenciações de gênero são uma construção social, não características inatas. É o que conclui Jorge Dorfman Knijnik, professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP), em artigo vencedor do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero. A pesquisa baseou-se peças de teatro infantil que de alguma forma conseguiram problematizar a questão do gênero.
De acordo com Knijnik, é na cultura infantil que os significados de gênero se impõem, a partir de estímulos indiretos. Já na escola há expectativas diferentes com relação ao comportamento dos meninos e meninas, reforçados pelas brincadeiras, pelos jogos, pela TV e assim por diante. O teatro também influencia muito a mente da criança porque “a interação pessoal [dos atores com as crianças] é mágica, a criança realmente acredita naquilo”, explicou o professor. Por isso a importância de peças que desconstruam esses estereótipos.
Os pais têm um grande papel na construção social dos filhos e também estão influenciados por esses construtos. Porém, Knijnik ressalta que “não se deve culpabilizar, mas refletir”. São necessárias políticas públicas de educação para que ocorra uma mudança. Mas ele ressalta que a idéia não é eliminar as diferenças, porque elas não deixarão de existir. A diferenciação é inevitável, o importante é que ambos tenham as mesmas oportunidades.
Para o professor, os meninos estão em situação pior, pois as mulheres já conquistaram espaço no meio masculino, explica. “As mulheres já trabalham em áreas consideradas para homens, mas menino ainda não pode chorar ou brincar de boneca”. Por causa dessa diferenciação, por exemplo, “eles são afastados de uma questão fundamental que é a paternidade”, com a qual terão de lidar quando adultos.
“É no esporte que as questões de gênero se realizam”, afirmou Jorge. O futebol, por exemplo, é o esporte preferido dos brasileiros, mas são poucas as meninas que jogam, pois não são estimuladas a isso. Por outro lado, os meninos são altamente instigados, e caso não se interessem, correm o risco de sofrer preconceitos. Para ele, ambos deveriam ter contato com todos os esportes, para que pudessem escolher depois.
A igualdade é importante, na visão do professor, porque as questões de masculinidade não existem sem as de feminilidade. Ambas são necessárias e se complementam. “Vivemos num mundo em que a confusão de identidades está instaurada, temos que lidar com as muitas personalidades de cada um”, afirmou. E reiterou: “O mundo é duplo, não dá para entendê-lo sendo apenas homem ou mulher”.