São Paulo (AUN - USP) - Quando alguém é denominado um “marqueteiro”, geralmente se entende que a pessoa faz promoção de um produto ou uma pessoa, criando falsas necessidades para o público, numa forma “capitalista” de fazer com que desejemos algo desnecessário. Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), Marcos Cortez Campomar, essa visão é no mínimo ultrapassada, senão, simplesmente errada. A atividade do marketing é extremamente relevante para a administração de uma empresa, e está ligada à adequação de seus produtos às tendências do mercado. Um dos maiores especialistas do Brasil no assunto, Campomar apresentou suas considerações recentemente, em seminário realizado na Faculdade.
“Marketing é a arte de bem fazer trocas”, afirma o professor. É uma das quatro atividades administrativas das empresas, juntamente à produção, a finanças e à administração dos recursos. Quando há mais oferta do que demanda por um produto, os profissionais do marketing tornam-se essenciais, realizando as seguintes funções: coleta de informações, análise de mercado, tomada e organização de decisões e confecção de um plano de trabalho para evitar prejuízos, trazendo lucros.
Segundo Campomar, “a empresa não pode fazer tudo que o consumidor quer e é preciso ver o que é benéfico para todos os envolvidos”. Essas decisões levam em conta o que ele chama de “variáveis incontroláveis”, como a situação econômica e política da região, aspectos culturais e físicos, entre outros. Por exemplo, há 40 anos era necessário fazer campanhas para que as mulheres usassem absorvente, algo incomum naquele período. O marketing foi essencial para que o mercado feminino aceitasse esse produto.
Sobre as transações do mercado internacional, o professor opina que a OMC (Organização Mundial do Comércio) não exerce tanto poder quanto se acredita. Ele se posiciona contra o projeto da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), argumentando que os produtos estrangeiros seriam melhores e mais baratos, ou seja, as empresas nacionais não aguentariam a concorrência. O motivo pelo qual o marketing brasileiro é confundido com propaganda seria exatamente porque a maioria dos produtos é estrangeira e, nossa saída para isso, historicamente, tem sido forçar os consumidores a comprá-los.
O setor mais problemático em relação à satisfação dos consumidores recentemente é o telefônico. Campomar apresentou dados do Procon (Programa de Orientação ao Consumidor) em que as empresas do ramo ocupam a maioria das dez primeiras posições do ranking de reclamações nos últimos quatro anos. Já a crise financeira não é uma questão central para o especialista. “Essas turbulências são passageiras. Temos que nos preocupar se tudo quebrar mesmo, como aconteceu em 1929”, comenta.