ISSN 2359-5191

13/05/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 23 - Sociedade - Museu de Arte Contemporânea
Inovações da arte pós-moderna são tema de curso no MAC-USP

São Paulo (AUN - USP) - Ao considerarem a obra de arte uma extensão do corpo, os happenings, performances e instalações típicos da arte pós-moderna desvinculam a produção artística da estética pura tradicional. É o que ensinou a pesquisadora Silvia Miranda Meira, doutora pela Universidade de Paris IV - Sorbonne, ao ministrar recentemente o curso “Discutindo a anti-aesthetica contemporânea” no Museu de Arte Contemporânea da USP.

Até a época moderna, explica Sílvia Meira, o contato com as obras de arte consistia na contemplação de um objeto como um quadro, escultura ou painel. Muitas vezes o único propósito da obra, derivado dos ideais estéticos gregos, era proporcionar o prazer de ver algo belo, proporcional, harmonioso. Havia, além disso, um único lugar destinado a alojar a cultura e a produção artística, os museus.

Em protesto, a arte pós-moderna, representada pelas intervenções urbanas, leva as obras às ruas, descentralizando-as dos acervos museológicos. “O ambiente penetra e envolve a um só tempo a obra e o espectador”, explica a pesquisadora. Outros sentidos além da visão são provocados pela interação não necessariamente frontal com a obra. Excitando a sensibilidade do espectador e inserindo-se na realidade diretamente, a experiência da apreciação estética muda enquanto seu suporte, o corpo, oferece novas possibilidades.

Não apenas o belo, mas também o feio, o inóspito e o estranho passam a ser retratados e instigados. “O corpo é também presença do rechaçado e do proibido (...), na atualidade é suporte dos cânones de ordens alternativas”, escreveu Sílvia Meira. Isto é, a experiência sentida no corpo do espectador pode produzir sentidos diversos dos impostos pela perfeição estética harmoniosa da arte tradicional.

Uma obra citada em artigo da pesquisadora que bem ilustra suas idéias é a do artista Ron Mueck, na exposição londrina de 1997 “Sensation: Young British Artists from the Saatchi Collection” (Sensação: Jovens Artistas Britânicos da Coleção Saatchi). Mueck produziu uma série de réplicas de corpos humanos de tamanhos e escalas variados. O espectador, ao mesmo tempo em que se sente “íntimo” da obra, pois vê representado o que poderia ser seu próprio corpo, sente-se também distante dela, pelo tamanho grotesco e irreal das figuras.

Outro partidário da tendência, segundo ela, é o americano Spencer Tunick. O artista fotografa aglomerações de inúmeros voluntários completamente nus em espaços urbanos. A intimidade da nudez é levada à esfera pública como uma intervenção no ambiente natural, por vezes provocando repulsa e indignação. Essas sensações da platéia, ou simplesmente o “estranhamento” dos espectadores, interessam aos artistas à medida que destroem a organização normal do mundo e propõe ao público novos questionamentos e buscas de sentido em obras aparentemente inexplicáveis.

Assim, por permitir a experimentação, a arte pós-moderna ao mesmo tempo torna-se difícil de definir e guardar em museus. Passa a ser mais pública, cultural, étnica, ou mesmo “antiarte”, por sua freqüente ausência de sentido.

O trabalho de Sílvia Meira faz parte dos esforços do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte em potencializar a reflexão e o estudo da arte. O programa, com uma proposta interdisciplinar, envolve diversas unidades da USP, como ECA, FFLCH, FAU, FEA, MAC e a Comissão de Pós-Graduação.

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