São Paulo (AUN - USP) - Pensando a indisciplina e o fracasso escolar como falhas na relação professor-aluno, o Grupo Ponte, do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância, do Instituto de Psicologia e da Faculdade de Educação da USP, oferece um curso com duração de seis meses a professores, principalmente da rede pública. Não se espera, todavia, encontrar causas e soluções genéricas para os problemas apresentados.
“As razões para a indisciplina e o fracasso na escola estão ligadas à história de cada aluno, não podemos indicar uma ou duas causas comuns”, afirma o professor Fernando Colli, um dos coordenadores do curso. Ele também assinala que não se pode culpar somente o aluno. “Os professores devem ter sensibilidade para captar os sinais de desinteresse do adolescente e ajudá-lo o quanto antes”, ressalta Colli.
O principal objetivo do curso é fazer com que os educadores consigam compreender o universo em que seus alunos estão envoltos e seu papel nele. Após três anos de experiência, Colli acredita que o curso está cumprindo bem seu objetivo. Ele diz ser notável a mudança de comportamento dos participante. Quando começam, têm esperança de aprender a diagnosticar as causas dos problemas. Após os dois meses de estudo (este ano serão cinco), nos quais a referência é quase sempre psicanalítica, o que procuram é entender a sua responsabilidade nesse processo.
O curso é ministrado por diversos professores, sendo a maioria deles da USP, e mensalidade é de R$ 50 para professores da rede pública e de R$ 90 para os da rede particular. Em cada aula é discutido um assunto diferente (como pobreza, relações de poder na escola e constituição do sujeito) e como ele influi na indisciplina e no desempenho escolar. Mas o curso vai além. Fala, também, de educação sexual na escola, de testes psicológicos, e da diferença entre o enfoque médico e o psicanalítico.
A conseqüência mais marcante do trabalho, segundo Colli, é que “a angústia entre professor e aluno diminui bastante”. Isso resulta em profissionais mais dispostos a dar aulas, que não consideram seu trabalho um sacrifício. Pela psicanálise, percebem a incapacidade de entender totalmente o “outro”. O resultado são professores surpresos com as novas “descobertas”, porém mais tranqüilos e pensativos.
Segundo profissionais que participaram do curso no último semestre, o curso realmente ajuda a melhorar a postura, muitas vezes punitiva, em relação aos alunos. Para Antônio Francisco de Paula Filho, professor e diretor de escola pública, “Quem procura o curso quer mudar essa postura ou apenas reforçar uma linha que já vêm desenvolvendo”. Para ele, o saldo do curso foi positivo, mas ele acredita que o custo é alto, especialmente porque a maior parte das pessoas que procuram o curso são da rede pública.
Para Leopoldina Mota, psicóloga, o curso dá uma boa ajuda aos educadores, mas acha que o enfoque é psicanalítico demais. “A psicanálise é importante para compreender esses fenômenos, mas não é suficiente”. Para ela, faltou uma abordagem mais social. Esse problema parece estar sendo resolvido esse semestre. Há um módulo do curso que enfoca a contribuição da psicologia social no entendimento da indisciplina e do fracasso.