São Paulo (AUN - USP) - Quem já ouviu falar de micoplasmas? Bem, provavelmente poucas pessoas sabem que micoplasmas são bactérias sem parede celular e que são os menores seres vivos de vida livre, já que não se pode incluir os vírus entre seres vivos. Poucos são os que conhecem esse tipo de bactéria, mas com certeza a maioria das pessoas já ouviu sobre pneumonia, artrite e uretrite, doenças que estão associadas aos micoplasmas.
O professor Jorge Timenetsky, que trabalha no Laboratório de Bactérias Oportunistas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, é um dos que conhecem bem os micoplasmas, pois vem trabalhando em diversas pesquisas relacionadas a eles. “Estamos tentando associar casos de artrite séptica (infecciosa) e reumática (pós-infecciosa) com a migração dos micoplasmas das mucosas dos seres humanos, onde compõem a microbiota normal, para as juntas ósseas, o que provocaria infecções (artrite séptica) ou reações imunológicas após uma infecção causada por outro fator (artrite reumática)”, diz Timenesky. Sabe-se que os micoplasmas migram para tal região do corpo e começam a multiplicar-se, porém o motivo dessas duas atitudes é ainda desconhecido.
Micoplasmas são bactérias fastidiosas, mais difíceis de serem isoladas do que bactérias convencionais. Essa pesquisa vem sendo desenvolvida há três anos e apenas uma espécie de micoplasma, o hominis, foi isolada dentre 100 amostras de líquido sinovial – o que lubrifica as articulações, permitindo a movimentação da cartilagem – punçado de pacientes que tivessem qualquer tipo de artrite. O professor disse que está tentando delinear um perfil de respostas imunes dessas pessoas frente aos micoplasmas. “O que se pode observar até agora é que o perfil desses pacientes é diferente daqueles que não têm artrite”, relata o pesquisador.
Os micoplasmas são denominados “bactérias oportunistas”, por se aproveitarem de uma debilidade do sistema imunológico do paciente para se desenvolver melhor. Eles não são encontrados somente em humanos, mas também em animais, plantas e insetos. É muito raro um micoplasma não-humano provocar alguma reação no homem, contudo, existem casos, considerados aberrações. Entre aqueles que podem desenvolver infecções não usuais em humanos, encontra-se o mycoplasma felis, de origem felina, que provocou artrite em uma mulher que possuía vários gatos. Outro caso é o contato entre pesquisadores e o mycoplasma pulmonis, existente em 90% dos ratos e camundongos de laboratório. A proximidade prolongada a cobaias aumenta as chances de os cientistas se infectarem.
Paralelamente à pesquisa sobre as artrites por micoplasmas, Timenestky vem prestando serviço a laboratórios para isolar meios de cultura celular, onde são inoculados vírus para experiências. No entanto, se nelas houver micoplasmas, que nem sempre são detectados, os resultados obtidos nas pesquisas deverão ser inutilizados, já que não se saberá se a célula estaria respondendo aos testes feitos pelo laboratório ou às bactérias. Para que isso não aconteça, o Laboratório de Bactérias Oportunistas visa selecionar meios de cultura celular, ratos e camundongos de laboratório que não sejam portadores de micoplasmas.