São Paulo (AUN - USP) -De acordo com Kátia Rúbio, coordenadora do Centro de Estudos Socioculturais do Movimento Humano da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE-USP), Ronaldo é idolatrado porque possibilita maior identificação com o público. Ela explicou que o esporte se concretiza na atuação do esportista profissional. Este realiza feitos diferenciados dos outros homens, e por isso torna-se referência para os demais. Acontece, então uma mitificação do atleta.
O esportista é comparado ao herói pois é autor de façanhas que homens comuns não fazem, tornando-se objeto de admiração. “Mas o herói é, antes de mais nada, um mortal”, explicou a pesquisadora. “Ele é singular no que faz de melhor, mas é demasiadamente humano, isto é, ele erra, sofre, faz besteiras”.
É por isso que Ronaldo é tão admirado. Ao mesmo tempo em que o jogador é extremamente talentoso, já sofreu e errou muito. “Isso aumenta o nível de significação. É diferente de Kaká ou Ayrton Senna, que têm a imagem de santos”.
O mito é uma construção social, “que tem manifestações presentes na sociedade desde que o homo é sapiens”, afirmou a professora. É a partir do mito que se funda a organização psíquica do ser humano. “Precisamos dele para lidar com questões da nossa existência, como o mal, a morte etc.”.
O esporte, por ser praticado há milênios, tornou-se quase um ritual, vindo se somar ao mundo de símbolos e arquétipos do inconsciente coletivo. O atleta torna-se, assim, o protagonista e um ser quase divino para o público que assiste ao espetáculo.
Ela explicou também que não a propaganda em cima do jogador não é suficiente para promovê-lo. “Não há marketing que dê conta de um sujeito inábil”. Segundo Rúbio, Ronaldo tem muito mais do que interesses de grandes empresas ou jogadas de marketing por trás de sua fama. “Ele virou fenômeno aos 17 anos já com repercussão mundial, sem ser conhecido”, explicou.