ISSN 2359-5191

20/09/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 17 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Veterinária da USP produz segundo clone fetal do Brasil

São Paulo (AUN - USP) - A Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ) da USP produziu o segundo clone brasileiro feito a partir de células de feto de bovinos. O bezerro morreu com oito meses de gestação em junho deste ano. Exames feitos em laboratório da UNESP em Araçatuba mostraram que o bovino é mesmo um clone, idêntico a Marcolino, nascido em abril. Os dados integram a tese de doutorado “Clonagem em bovinos utilizando dois tipos de células: de animais adultos e de fetos”, do veterinário Marco Roberto Bourg de Mello.

Iniciado em dezembro de 1999, o estudo já alcançou um dos objetivos propostos: introduzir no laboratório da FMVZ a técnica de clonagem animal. O outro é a comparação da eficiência de técnicas de clonagem com células diferentes, fetais e de animal adulto. A coleta de dados se iniciou em junho de 2001, e deve continuar até dezembro, segundo previsões de Marco. Ele escolheu esse tema porque já havia entrado em contato com esse tipo de experiência em um projeto anterior. Tinha trabalhado com embriões de camundongos, o que o fez se interessar ainda mais por clonagem.

“A pesquisa procura descobrir se é realmente mais fácil clonar células jovens do que células ‘adultas’ e quais são as diferenças nos dois processos”, diz o veterinário. Isso porque, em tese, é mais difícil obter um clone feito a partir de uma célula de animal adulto. Os dois tipos de célula já têm diferenciação, ou seja, já estão especializadas em pêlo, estômago, ossos, entre outras. A distinção é que a célula de feto é mais jovem, por isso é tida como menos problemática.

A primeira fase do estudo já foi concluída. Foram feitos os experimentos com células de feto, das quais se originou o bezerro Marcolino – o primeiro do Brasil – e o bovino abortado em junho, quando faltava apenas um mês para completar sua gestação. “Como ele estava praticamente formado, foi possível perceber a olho nu as semelhanças com Marcolino.” Segundo o pesquisador, o bezerro morreu devido a um problema muito comum em clonagem, a hidropsia – acúmulo de água na placenta.

O terceiro bezerro da experiência deve nascer em dezembro, selando o sucesso da primeira fase do estudo. A segunda já se iniciou. Consiste em aplicar o mesmo processo técnico utilizando células de um animal adulto, uma vaca branca da raça Nelore.

Processo da clonagem

Para conseguir fazer os clones das células de feto, 1.400 óvulos foram coletados. A partir deles, foram feitos 377 embriões. Esses embriões passaram por um cultivo em laboratório de uma semana, quando estariam prontos para serem transplantados para uma receptora. Dessa fase, restaram 24 embriões, que foram introduzidos em 14 vacas (algumas ficaram com mais de um embrião), mas apenas três delas conseguiram entrar em gestação.

A técnica de clonagem é a mesma utilizando qualquer tipo de célula: de embrião, de feto ou de adulto. O primeiro tipo ainda não sofreu diferenciação – a célula ainda tem função generalizada – e é jovem. A célula fetal já é diferenciada, mas ainda é jovem. A célula de um animal adulto é diferenciada e mais velha.

Segundo o veterinário, a clonagem de animais adultos é mais interessante para a ciência porque suas características já são conhecidas. “Ao clonar um embrião ou um feto, não se sabe quais características serão clonadas, ou seja, se vale a pena ter um animal igual a ele.”

O primeiro passo para clonar é remover o núcleo do óvulo – que é como uma célula normal, só que maior – e introduzir o núcleo da célula a ser clonada nesse óvulo desnucleado. Para desenvolver o embrião formado, é dado um estímulo, uma espécie de ‘choque’. Depois de uma semana em laboratório, os embriões estarão prontos para serem gestados.

Mello ressalta que, embora sua tese se conclua com o sucesso do processo de clonagem, os experimentos irão continuar, para averiguar o desenvolvimento desses clones em comparação a bezerros originados por fecundação ‘normal’, o aparecimento de doenças, entre outros.

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