São Paulo (AUN - USP) - A leitura de um livro coloca em nossas mãos o resultado de um trabalho acabado. As páginas pouco nos dizem sobre sua origem, sua produção ou até mesmo sobre a vida daquele que as escreveu. A exposição "Construindo Graciliano: Vidas Secas", que acontece de 23/09 a 10/01/2003 no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), faz parte da programação da 7ª Semana de Arte e Cultura da USP, e faz uma leitura do escritor alagoano e mostra ao visitante um pouco da história do autor e de sua obra clássica.
Para Yedda Dias Lima, curadora da exposição, não se pode negar a importância da obra de Graciliano na literatura brasileira e inclusive sua repercussão no cenário da literatura mundial. Graciliano Ramos é um dos autores brasileiros mais traduzidos. "Mas o que realmente queremos fazer é que o público perceba a participação e a influência de Vidas Secas nas outras artes e o caminho percorrido pelo autor para estruturar o livro, além da ligação deste com a própria vida de Graciliano", diz.
Manuscritos do livro, caricaturas do autor e correspondências trocadas com sua esposa e amigos são parte da mostra, que apresenta também a influência de Vidas Secas na pintura, na música e no cinema. Destaque para os quadros de Portinari, que mudaram severamente depois do contato com a história sobre os viventes da seca nordestina. De figuras roliças e fortes, os retirantes retratados por Portinari transformaram-se em figuras magras e famintas, mais próximas da realidade.
"Vidas Secas é uma obra composta por quadros isolados e autônomos, que demonstram o ciclo da seca. Você tem a fartura do inverno, na época das chuvas, a disputa pelas terras e o retrato do retirante", explica Yedda. A história tem a estrutura de uma novela, entretanto seus capítulos podem ser lidos isoladamente, como se fossem contos.
Mas são os detalhes que impressionam. O capítulo Baleia, por exemplo, foi publicado originalmente como um conto, em maio de 1937, num jornal do Rio de Janeiro. A própria ordem cronológica em que foram redigidos os manuscritos de Vidas Secas prova que Graciliano reorganizou esses "quadros isolados" numa ordem diferente da escrita para serem publicados com o formato de livro, em 1938.
Outra curiosidade era o ritual diário utilizado por Graciliano para escrever seus trabalhos. O autor sentava-se à uma mesinha com uma pilha de livros à sua volta, formando uma espécie de muro que o separava da bagunça das crianças na sala do apartamento. A forma de rasurar, fazendo um hachurado na parte errada e passando a brasa do cigarro para secar a tinta, também é um detalhe percebido somente quando se estuda os manuscritos.
A coleção Graciliano Ramos do IEB possui ainda recortes de jornal, críticas, exemplares estrangeiros das obras do escritor e a biblioteca pessoal com aproximadamente 2000 volumes. O acervo advém de doações feitas por sua falecida esposa, Heloísa Ramos. "Dona Ló", como era chamada pelo escritor, e seu filho Ricardo Ramos foram os grandes promotores da obra de Graciliano após seu falecimento, em 20 de março de 1953.
A exposição estará aberta ao público das 9 às 17h, de segunda a sexta-feira, e a entrada é franca. O IEB encontra-se na Avenida Professor Mello de Moraes, Travessa 8, nº 140, Cidade Universitária, São Paulo(SP).
Mais informações: (11) 3091-3199, no e-mail difusieb@edu.usp.br ou no endereço eletrônico www.ieb.usp.br