São Paulo (AUN - USP) - Com o objetivo de avaliar a prevalência de demência em pessoas acima de 60 anos, o Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP está realizando uma pesquisa de campo inédita em São Paulo. O projeto, coordenado pelo Projeto Terceira Idade (Proter) e apoiado pela FAPESP, tem o intuito de fornecer dados confiáveis para uma política de saúde voltada para os idosos. Este estudo se torna importante à medida que está havendo uma inversão da pirâmide populacional no Brasil, com um aumento do número de idosos, e o sistema de saúde atual é orientado para a assistência materno-infantil.
Essa variação se reflete na expectativa de vida: em 1900, esta era de 34 anos; atualmente, está em torno de 69 anos, e estima-se que em 2020 seja de 72 anos. Isto inflige um aumento da freqüência de doenças típicas da velhice, e o tratamento tardio destas gera gastos muito grandes e muito sofrimento para o paciente. Neste sentido, é de grande relevância pesquisar os transtornos de memória, pois estes são bastante onerosos, principalmente para a família, e ocasionam dificuldades no dia-a-dia do idoso. Estes distúrbios surgem com o tempo, ou seja, tem como principal fator de risco a idade, seguido por problemas vasculares e casos mistos. De acordo com um estudo australiano, cerca de 7% da população geral entre 60 e 65 anos apresenta um quadro de demência, e a cada 5 anos dobra-se esta freqüência.
A pesquisa, cujo espaço amostral foi gerado pelo IBGE, pretende levar em consideração questões sócio-demográficas e culturais brasileiras. Para tanto, os bairros selecionados para o levantamento de dados apresentam proporcionalmente a mesma distribuição de renda da cidade de São Paulo: Jd. Brasilândia, Rio Pequeno e Vila Sônia, três bairros com nível de renda mais baixo, e Jd. Paulista, de classe média. Através dessa diversidade pretende-se também descobrir se o tempo de estudo influencia o diagnóstico, ou seja, se é um fator de risco, pois muitas vezes confunde-se analfabetismo com demência.
O trabalho será dividido em duas fases. Na primeira, que já está ocorrendo há dois meses e deve durar mais quatro, estudantes de Enfermagem da USP, devidamente identificados com aventais e crachás, estão realizando uma bateria de testes com os cerca de 2000 idosos residentes nestes bairros, para detectar os possíveis casos de transtornos de memória. Na segunda fase, que deve iniciar agora na segunda quinzena de setembro, os possíveis casos serão encaminhados para o HC, onde se realizarão testes mais aprofundados, como tomografias, ressonâncias magnéticas, exames clínicos e psiquiátricos, todos gratuitos, para se confirmar o diagnóstico. Os casos prováveis (confirmados) terão acompanhamento no Proter ou na rede de saúde pública, uma vez que estas doenças não têm cura, mas sim tratamentos que podem retardar o seu progresso. Espera-se que do total de pessoas examinadas na primeira fase, cerca de 200 a 250 compareçam ao HC para a segunda fase.