São Paulo (AUN - USP) - A FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) selecionou recentemente dez projetos de pesquisa sobre o clima para apoiar financeiramente. Entre eles, foi escolhido o do professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), intitulado “Impactos socioeconômicos das mudanças climáticas no Brasil: insumos quantitativos para projetar políticas públicas”. Segundo o docente, o projeto tem três objetivos: prever consequências dessas mudanças, entender o comportamento dos agentes econômicos nesse cenário e ver as possibilidades para atenuar esses impactos, o que os especialistas chamam de mitigação.

O programa conta com a colaboração dos professores da FEA, Jacques Marcovitch, Carlos Roberto Azzoni, Joaquim José Martins Guiloto, Eduardo Haddad e José Eli da Veiga, entre muitos outros, que já possuem pesquisas sobre consequências econômicas das mudanças climáticas em andamento desde 2006. Além do apoio da FAPESP, Abramovay conta com o incentivo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do COPPE (Instituição de Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto de Geociências da USP. “O projeto está em forte relação com o trabalho de pesquisadores britânicos e norte-americanos”, afirma Abramovay.

A intenção do professor é agregar uma série de iniciativas de pesquisa que ocorriam na Universidade sobre esse tema, estabelecendo paralelos entre o conhecimento produzido por cada um dos pesquisadores. Haverá grande incentivo a dissertações de Mestrado e teses de Doutorado ligados ao assunto desenvolvidos na Universidade. Segundo Abramovay, relacionar as mudanças climáticas com as decisões de consumidores, empresas e governos é algo que exige interdisciplinaridade. “É um tema em que é necessária a colaboração entre diferentes ciências do homem e da sociedade, já que envolve uma dimensão ética fundamental”.

De acordo com o professor Jacques Marcovitch, os brasileiros têm que estar mais informados sobre as discussões climáticas. “Eventos como o desastre de Santa Catarina, no ano passado, nos levam a pensar em como preparar a sociedade brasileira para esses extremos”, diz autor do livro “Para mudar o futuro”, de 2006, que serve como plataforma para os estudos do projeto. O site que compila os artigos é o www.usp.br/mudarfuturo, que possui estudos de caso nas áreas de siderurgia, indústria de celulose e energia, entre outros.

Outro aspecto relevante dos estudos é a possibilidade de entender o papel do Brasil nesse cenário de tomada de decisões globais. Para Abramovay, os problemas do país não devem ser vistos de forma isolada. “Mudanças climáticas envolvem o conjunto da ‘ecosfera’, portanto, todos os países. Um dos temas fundamentais é a relação entre os responsáveis pela situação atual, os países desenvolvidos, e o surgimento de novos países emissores: China, Brasil e mais 20 outros, pelo menos”. Porém, Marcovitch chama a atenção para a diferença entre a importância para a questão ambiental que os governantes dão em seus discursos e as decisões que realmente tomam. “Infelizmente, no fim das contas, a urgência das questões econômicas sempre acaba prevalecendo”, afirma o professor.