São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa sobre a diversidade de árvores da Mata Atlântica, promovida por pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), está ajudando a Polícia Ambiental e proprietários de terra do Interior do Estado a reflorestar e recuperar áreas de nascentes de rios. O projeto, orientado pelo professor Paulo Takeo Sano, é financiado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ligada ao Ministério da Educação).
A equipe de Sano analisa três fragmentos de Mata Atlântica localizados em propriedades particulares nos municípios de Areias e São José do Barreiro, próximos à divisa São Paulo – Rio de Janeiro. Essa região faz parte do Vale do Paraíba e é conhecida como Vale Histórico por seu crescente turismo [mapa]. A intenção do projeto é conhecer as espécies vegetais desses fragmentos e traçar diretrizes que auxiliem na conservação e recuperação das florestas da região. Nesta, instauraram-se as monoculturas dos ciclos econômicos do Brasil (cana-de-açúcar, café) e, nas últimas décadas, vem prevalecendo a atividade agropecuária.
Crédito: Magia Embalagens
Crédito: CPTEC
Na pesquisa do IB, os três fragmentos de Mata Atlântica tem tamanhos diferentes, sendo dois pequenos, de 14 hectares [1 ha tem pouco mais que o tamanho de 1 campo de futebol], e um maior, com 300ha. Eles estão situados na zona de preservação do Parque Nacional da Serra da Bocaina e foram isolados entre si devido à intensa devastação florestal do Vale. Além disso, os fragmentos estão em uma área de tensão ecológica, que costuma ser bem mais rica em diversidade devido à coexistência de diferentes tipos de floresta. Herbert Serafim de Freitas, pesquisador do IB-USP que está fazendo seu Mestrado com este projeto, explica que a Mata Atlântica não é uma floresta uniforme, mas “um conjunto de tipos florestais”. Atualmente, usa-se o termo lato sensu em contraposição à configuração mais específica da floresta, designada scrito sensu.
A Mata Atlântica, que se distribui ao longo do litoral do Brasil, originalmente ocupava 15% do território nacional. Nestes, a floresta scrito sensu aparece do alto da Serra até a beira-mar e tem água disponível o ano inteiro. Já a Mata Atlântica lato sensu abrange os campos de altitude, os brejos e as florestas mais interioranas, que passam por períodos de seca, tendo uma composição biológica bastante diferente.
Hoje, o Código Florestal Brasileiro protege ambas as Matas, no entanto, a maior parte das pesquisas no Vale do Paraíba trata da Mata Atlântica scrito sensu, onde há mais unidades de preservação. Herbert de Freitas diz que isso é um desafio para os projetos de reflorestamento: “A região do Vale do Paraíba se baseava muito em listas de espécies de outras partes de SP para fazer os seus plantios. As sementes não tinham o componente genético [de adaptação, por exemplo, à temperatura e à umidade do interior] que é muito importante para sua sobrevivência. As mudas chegavam vigorosas, mas com o tempo, muitas morriam”.
Os pesquisadores do IB estão enviando as listas de espécies descobertas no projeto à Polícia Ambiental de Bananal, que fiscaliza o Vale Histórico e mantém parceria com o DEPRN (Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais), órgão responsável pelo licenciamento das atividades e obras que precisem cortar a vegetação nativa ou interferir em áreas de preservação permanente. Enquanto a Polícia Ambiental aplica infrações ao Código Florestal (como queimadas ou desmatamentos não licenciados), o DEPRN impõe penas e fornece diretrizes para recuperação dos danos, indicando quais espécies devem ser plantadas para recuperar a flora típica. Assim, as árvores específicas da região descobertas pelos pesquisadores vêm sendo replantadas por decisão e fiscalização do poder público.
Embora expressivo, esse ainda é um exemplo pontual de cuidado com a Mata Atlântica, especialmente com a interiorana, a lato sensu. O Vale do Paraíba paulista não possui áreas de proteção integral que incluam as remanescentes da floresta lato sensu, a qual tem uma biodiversidade única e extremamente rica. Ainda é necessário intensificar a vigilância ambiental e realizar mais estudos para conhecer as espécies da região, a fim de proporcionar ao Vale uma política de conservação efetiva, que proteja a biodiversidade de ambos os tipos de Mata Atlântica.