São Paulo (AUN - USP) - Estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) concluiu que apenas 13,4% dos pulmões disponíveis para transplante no Estado de São Paulo são aproveitados. A pesquisa analisou os dados sobre disponibilidade e condições desses órgãos durante todo o ano de 2006, mas os dados ainda são válidos porque as dificuldades são as mesmas. As principais razões para o mau aproveitamento estão em deficiências de procedimento – como falta de informações importante por parte de hospitais – e em exigências restritas em relação aos potenciais doadores.
Para um procedimento de transplante ser realizado, são necessários o consentimento da família, a declaração de morte cerebral do doador, a ausência de doenças incompatíveis e a autorização do SUS. Em todos esses casos, há possibilidade de falhas humanas que dificultam o processo e aumentam ainda mais a fila de espera. O estudo descobriu que 95% dos pulmões disponibilizados foram recusados. Sendo que 60% das recusas foram justificadas por três principais motivos: distância entre doador e receptor, infecções e lesões no pulmão - identifadas por um exame que obtém pH do sangue arterial do paciente, a gasometria.
Os dois primeiros motivos são muito afetados pela falta de dados precisos por parte dos hospitais. A pesquisa constatou que em muitos casos foram negligenciadas informações importantes sobre o doador como tabagismo, tempo de parada cardíaca, exames e radiografias. Além deles, a distância também é um fator decisivo na recusa de órgãos, pelo fato de a demanda estar muito concentrada em torno da cidade de São Paulo.
Dessa forma, são apontados vários problemas que poderiam apresentar soluções. A revisão dos critérios de aceitação é uma das soluções propostas. Muitas equipes aumentam o tempo da fila de espera por buscarem apenas órgãos que se enquadrem na condição de doador ideal. Entretanto, visando à diminuição dessa espera, acadêmicos discutem também o uso de doadores marginais, ou seja, aqueles que não apresentam todas as características ideais, mas podem ser usados em casos específicos.
A grande questão está em definir critérios para julgar se um doador marginal pode ou não diminuir a taxa de sucesso do transplante. Segundo Jader Junqueira, acadêmico do curso de Medicina da FMUSP que participou da pesquisa, “Hoje se tem tentado utilizar cada vez mais doadores marginais devido ao restrito numero de pulmões doados.”
Além da revisão de critérios, o estudo sugere um melhor cuidado ao potencial doador. Grande parte das rejeições são devidas a infecções e gasometrias inadequadas, o que indica baixa qualidade no tratamento em terapia intensiva a que os pacientes potenciais doadores são submetidos.