São Paulo (AUN - USP) - A Faculdade de Odontologia da USP acaba de inaugurar seu novo Centro de Pesquisa, Ensino e Clínica de Laser em Odontologia (Lelo). O novo Lelo, que abriu suas portas em 20 de setembro último e custou aproximadamente R$300 mil, conta com 400 m2 distribuídos em quatro consultórios, dois laboratórios, banheiros com acesso para deficientes, central de esterilização de instrumentos, salas equipadas com videoconferência, sala de aula, sala com computadores e uma biblioteca especializada, única do gênero no país. Está equipado com dez equipamentos de laser de alta intensidade e cinco de baixa intensidade, com custo total estimado em R$1,5 milhão.
“O Centro será um referencial não só no Brasil mas em toda a América Latina. Na realidade, seremos um referencial mundial para todos aqueles que trabalham com laser dentro da odontologia”, garante Carlos de Paula Eduardo, professor da Faculdade de Odontologia.
De Paula Eduardo está à frente da capacitação brasileira na aplicação do laser na odontologia desde 1990, quando da primeira visita à Universidade de Kyushu, em Fukuoka no Japão, num projeto de intercâmbio patrocinado por uma parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a USP. Em 1992, um nova visita de intercâmbio aconteceu na Universidade de Aachen, na Alemanha, e em 1994, nova visita ao Japão, agora na Universidade de Showa, em Tokyo. O projeto previa um esquema de cooperação e a visita ao Brasil de professores estrangeiros para a transferência dos novos conhecimentos.
Mas o grande diferencial do Lelo em relação aos outros centros de laser do mundo estabeleceu-se em 1992 com a formalização de uma parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da USP. Segundo a física-médica Denise Maria Zezell, além de proporcionar a troca de experiências entre os pesquisadores das diferentes áreas e o embasamento técnico para a correta aplicação do laser, a parceria permitiu aos pesquisadores em odontologia a incorporação de metodologias específicas aos estudos com laser, sobretudo em seus aspectos físicos. “Como resultado, os trabalhos ficaram mais precisos e profundos do ponto de vista das especificações técnicas do laser”, garante Denise. Em 1994, Ipen e Faculdade de Odontologia já estavam publicando trabalhos de peso no cenário da pesquisa internacional.
Mas diante do alarde provocado por profissionais que visam apenas a própria promoção pessoal, e mesmo para aqueles que esperavam que o laser já pudesse substituir o tratamento convencional da cárie, De Paula Eduardo alerta que o maior mérito da aplicação do laser ainda é a redução microbiana. Oitenta porcento do tratamento ainda é feito com o uso do instrumento cortante rotatório, a tradicional broca. Os outros 20% são finalizados com um laser de érbio ou neodine. Por meio de um processo de ablação do tecido cariado, o laser provoca micro-explosões na dentina atingida pelas bactérias, fazendo a remoção da cárie e conseguindo uma redução de até 99,6% da população de microorganismos. Nas áreas de endodontia (tratamento de canais dentários) e periodontia (tratamento dos tecidos de suporte e proteção dos dentes), vale o mesmo princípio: a aplicação do laser vem sempre depois dos procedimentos tradicionais de limpeza da área infectada. Já a ação antiinflamatória do laser encontra aplicação, entre outras, no alívio da dor e da irritação local associada às aftas e à infecção pelo vírus da herpes labial.
A desinformação com relação à nova tecnologia ainda é grande, fato que vem motivando o centro a desenvolver protocolos para a correta aplicação do laser, envolvendo especificações técnicas como potência, tempo de exposição, tipo de equipamento adequado e regulagem do feixe de luz. “A aplicação incorreta do equipamento, além de não produzir os benefícios desejados, pode oferecer danos a saúde do paciente”, alerta De Paula Eduardo.
Nesse sentido, o curso de Mestrado Profissionalizante em Lasers em Odontologia Ipen-USP, primeiro curso profissionalizante reconhecido pela Capes em 1999, já formou 20 mestres oriundos de várias regiões do Brasil. Também já se encontra em fase final de aprovação pela Congregação da Faculdade de Odontologia a criação de uma disciplina de Laser na graduação. Maiores informações podem ser obtidas na Faculdade de Odontologia, à avenida Professor Lineu Prestes, 2227, Cidade Universitária.