São Paulo (AUN - USP) - A Usina Hidrelétrica de Funil, localizada em Itatiaia (RJ), conta com descobertas de pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) para realizar seu programa permanente de recuperação do entorno de seu reservatório e das nascentes do rio do Rio Paraíba do Sul. Neste programa, a Usina fornece mudas, insumos e assessoria técnica aos proprietários da região que têm interesse em reflorestar essas áreas. Espécies de plantas utilizadas no programa são indicadas pela equipe do IB, que está fazendo uma ampla pesquisa sobre a diversidade vegetal da Mata Atlântica no Vale do Paraíba.
A Usina Hidrelétrica de Funil pertence à companhia estatal Furnas Centrais Elétricas e desenvolve desde 1994 o programa reflorestamento de parte das margens do Rio Paraíba do Sul e do reservatório da Usina.
Por estar próxima a grandes centros consumidores, a manutenção da água que chega à Usina de Funil é fundamental para suprir as demandas por energia elétrica* dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, inclusive das grandes indústrias da região, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. Os aspectos ambientais são essenciais nessa manutenção, como evidenciou a forte seca no Vale do Paraíba, em 2003. A Usina de Funil foi a mais prejudicada pela estiagem, que reduziu a capacidade de seu reservatório em mais de 10%, fazendo-a produzir apenas 64MW, ante sua capacidade de 216MW.
Outro aspecto importante na chegada de água à Usina é a vegetação das margens do rio e do entorno de seu reservatório. Ela controla a erosão do solo [desgaste da terra com arrastamento de sua superfície por chuvas, vento, etc.], diminuindo os sedimentos que se depositam no leito do rio ou no fundo da represa. Isso mantém a profundidade fluvial e o volume do reservatório nas condições necessárias para gerar energia.
Quando não chega água suficiente ao reservatório, no entanto, diminui-se expressivamente a vazão da barragem, provocando até mesmo falta de água em propriedades e municípios da região. Por esse motivo, muitos proprietários das terras vizinhas ao rio e à Usina, que já estavam frequentemente ficando sem água, engajaram-se no programa da Usina de Funil. Este iniciava uma conscientização sobre os benefícios do reflorestamento e sobre a conservação das áreas de nascentes, conseguindo envolver fazendeiros na recuperação das matas e em sua proteção. A vegetação próxima às nascentes ajuda o solo a absorver água das chuvas, fazendo com que esta alimente os chamados lençóis freáticos: rios subterrâneos que dão origem às nascentes dos rios emersos.
Herbert Serafim de Freitas, biólogo da USP que atua no estudo do IB sobre a diversidade de árvores da Mata Atlântica no Vale do Paraíba, já participava do programa da Usina desde 2005, reflorestando com espécies nativas a propriedade de seus pais, próxima ao Rio Paraíba do Sul. Em 2007, Herbert de Freitas comunicou sobre o início da pesquisa do IB à Usina, que se interessou pelos dados inéditos sobre as árvores do Vale Histórico. A partir de então, a equipe de biólogos liderada pelo professor Paulo Takeo Sano disponibiliza suas descobertas à Usina, na medida em que vai analisando três fragmentos de Mata Atlântica nos municípios de Areias e São José do Barreiro, divisa de SP com RJ. Até agora, a pesquisa já identificou 284 espécies de árvores nos fragmentos e ao menos 40 delas são novas no Vale do Paraíba paulista e sete correm risco de extinção.
Atualmente, os pesquisadores aconselham a seleção de plantas do programa de reflorestamento da Usina, o mais importante do Vale do Paraíba. Segundo Freitas, um dos maiores problemas em grandes projetos de reflorestamento é quando ocorrem “plantios desastrosos”, nos quais são introduzidas espécies exóticas [de outros países] ou que não fazem parte da flora específica da região. Isso traz consequências graves, como a falta de interação entre as espécies plantadas e a fauna local, em que as plantas não servem de alimento aos animais, e o desperdício de tempo e recursos econômicos pelo fracasso dos plantios.