São Paulo (AUN - USP) - Hoje não há leitos suficientes para internar todos os doentes mentais que necessitam de tratamento. Para Valentim Gentil, professor da Faculdade de Medicina da USP, o principal obstáculo para aumentar os leitos e oferecer terapêutica adequada aos pacientes é a lei antimanicomial, de abril de 2001, que confunde hospital asilar com asilo.
O asilo é um refúgio para o doente buscar sua recuperação e não uma ameaça. É por isso que idosos e crianças têm direito a esse amparo. Durante o Primeiro Encontro de Saúde Mental, realizado no Instituto de Psicologia da USP, Valentim discutiu a falta de leitos enquanto o número de doentes não para de aumentar. Isso acontece porque não há transição gradual entre o modelo antigo, em que os doentes eram recolhidos e tratados em hospícios, e o atual, no qual o tratamento básico é comunitário e acontece fora dos hospitais. Eles ficam restritos a casos graves de paciente com dificuldade de adequação ao convívio social.
A opção para o hospital é a residência terapêutica, que é mais cara. Com isso, apenas metade da verba aplicada em recursos extra-hospitalares é destinada aos hospitais. E sequer pode-se definir exatamente o que é feito com todo esse dinheiro porque o Tribunal de Contas não consegue auditar o Ministério da Saúde.
Valentim afirma que o dinheiro não foi para os Centros de Atenção Psicossociais (Caps) que são as atuais portas de entrada para o tratamento de portadores de distúrbios mentais. Os Caps são divididos em níveis 1,2 e 3. Na cidade de São Paulo, não existe nenhum Caps 3, o único que permite o pernoite do doente. O Caps 3 mais próximo fica em Santo André. E, uma vez que o sistema não permite pernoite de pacientes que não frequentam regularmente o Centro, ele não pode ser utilizado por doentes da Capital.
Se o dinheiro não é aplicado na construção de Caps, ele também não se destina à prevenção de doenças. Valentim aponta que não há programas de prevenção para problemas como anorexia, obesidade mórbida e depressão, entre outros. Isso prejudica ainda mais a gestão do sistema de saúde mental, afinal, como lembra o professor, “a melhor forma de não internar é trabalhar com prevenção”.