São Paulo (AUN - USP) - A eletroconvulsoterapia (ECT), nome técnico do tratamento por eletrochoque, não deve ser abandonada como opção para pacientes com doenças neurológicas. De acordo com o professor da Faculdade de Medicina da USP, Valentim Gentil, em casos extremos de depressão, nos quais o paciente já não responde aos remédios, o choque elétrico pode salvar vidas. Infelizmente, segundo o médico, o preconceito associado a esse tipo de intervenção impede que ela seja disponibilizada para quem necessita.
Valentim explica que filmes como “Estranho no Ninho” e “Bicho de Sete Cabeças” ajudaram a reforçar o estereótipo negativo construído em torno do eletrochoque. Apesar de não ser um procedimento simples, afirma o profissional, hoje ele é seguro e normatizado. “Muitas pessoas falam mal da ECT porque não conhecem os procedimentos atuais”, explica Valentim. No Brasil, o período do governo militar, conhecido por utilizar descargas elétricas como ferramenta de tortura, ampliou ainda mais a perseguição à ECT. Para o professor, isso significa que muitas pessoas não recebem esse tratamento não pelo seu custo, mas sim devido à cultura.
A ignorância em relação ao eletrochoque pode ter consequências devastadoras. Valentim cita o caso de Andrea Yates, americana que, em 2001, afogou seus cinco filhos na banheira de casa. Mais tarde, ela foi diagnosticada com depressão pós-parto severa e psicose, o que levou à alegação de insanidade mental. Valentim afirma que toda tragédia poderia ter sido evitada caso Yates fosse tratada com a eletroconvulsoterapia. Contudo, as leis do Texas, estado americano em que residia, proibiam esse tipo de intervenção.
Para evitar que esse tipo de episódio ocorra no Brasil, 930 psiquiatras assinaram, em 2007, um documento pedindo que o SUS custeasse o tratamento por eletrochoque. Até hoje não houve resposta oficial. Para Valentim, é inaceitável que as políticas públicas da área da saúde se neguem a investir num tratamento comprovadamente eficaz, justificando-se com base em velhos mitos.