São Paulo (AUN - USP) - Ovos de galinha de algumas marcas comerciais que trazem em seus rótulos propaganda de redução de colesterol apresentam valores iguais ou superiores ao colesterol de ovos “normais”. Esta é a conclusão de um estudo realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, coordenado pelo professor Cássio Xavier de Mendonça Júnior, veterinário especializado em nutrição e doenças nutricionais de aves.
Dez marcas de ovos “especiais” – que enunciam vantagens para a saúde em relação aos demais – foram coletadas no primeiro semestre desse ano, diretamente das prateleiras de supermercados. “Ao analisar o conteúdo dos ovos, vimos que os resultados laboratoriais nem sempre estão de acordo com a propaganda estampada nos rótulos”, diz Cássio de Mendonça.
O pesquisador vem estudando durante dez anos a redução de colesterol em ovos de galinha e garante que não há meios de reduzir o teor em mais de 20% em relação ao ovo “normal”. A maioria dos ovos, apesar de ter impressa em seus rótulos a redução de 20 a 40% do colesterol, não apresenta distância significativa do total de 213 miligramas por ovo, taxa média considerada como normal.
Segundo o veterinário, algumas marcas não apenas deixam de atingir a porcentagem anunciada como têm o índice de colesterol até mais elevado do que o detectado em ovos “normais”. “Os granjeiros, via de regra, comparam seus resultados com dados obtidos de pesquisas que utilizam metodologia inadequada de análise do colesterol”. Assim, a diferença de colesterol entre o ovo ‘normal’ e o que eles irão colocar no mercado é muito maior.” Devido ao método empregado, o teor de colesterol nos ovos pode ser superestimado pois outros esteróis – substâncias de mesma estrutura química que o colesterol – presentes na gema podem ser incluídos na análise, contribuindo para o seu elevado índice.
Assim como alguns rótulos anunciam porcentagens de redução, outras marcas prometem “acréscimos”. O ômega-3 é um desses aditivos. Ácido graxo de cadeia longa, ele traz inúmeros benefícios para a saúde, principalmente para o coração. O nome indica que a primeira dupla ligação ocorre no terceiro carbono da cadeia. Os mais importantes são: DHA, EPA e DPA, dos quais o primeiro traz mais atributos à saúde, seguidos pelos dois outros, na ordem.
O ômega-3 está presente em alguns tipos de peixes e algumas algas. O ácido linolênico, também considerado um ômega-3, não tem os efeitos benéficos à saúde do DHA, mas pode ser transformado quando ingerido pela galinha, em reduzidas quantidades deste ácido graxo. Ele está presente essencialmente em sementes oleaginosas, como a canola e a linhaça.
Utilizando-se desse detalhe científico, as embalagens divulgam conter grandes quantidades de ômega-3 benéfico à saúde, quando na verdade possuem riqueza em linolênico, que pode ser facilmente acrescido à ração da galinha. Grande quantidade de linolênico na dieta faz com que a taxa de ômega-3 benéfico à saúde aumente um pouco no ovo, mas não nas quantidades anunciadas.
Mendonça coordena pesquisas na FMVZ que procuram novas fontes de ômega-3 benéficas à saúde. O objetivo é buscar elementos que possam ser introduzidos na ração com o menor custo possível para o granjeiro e com maior benefício ao consumidor.
Há veracidade quanto a outros acréscimos anunciados, como por exemplo as vitaminas “A” e “E”. Segundo Mendonça, elas são facilmente introduzidas na dieta da galinha e transmitidas para o ovo. Por isso, na análise dessas variáveis, houve um grande salto em quantidade, compatível ao anunciado.
A pesquisa realizará um segundo teste com as marcas, para reafirmar os primeiros dados ou verificar mudanças. Os números do estudo serão apresentados em novembro pelos alunos de Mendonça, no Simpósio de Iniciação Científica da USP (SICUSP), que se realizará em Piracicaba. O estudo também deve ser apresentado ao Ministério da Agricultura, assim que concluída a segunda parte.