ISSN 2359-5191

04/10/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 19 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Pesquisa busca baratear e disseminar o tratamento da malária

São Paulo (AUN - USP) - Utilizar princípios ativos de drogas já existentes no mercado para combater a malária e, com isso, tornar o tratamento acessível às populações pobres. Esse é o objetivo do grupo de pesquisa chefiado pelo pesquisador Alejandro Miguel Katzin, do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas - ICB.

O alvo do estudo do grupo é a bioquímica do Plasmodium falciparum, parasita responsável pela forma mais grave de malária. “Estudamos vias de biossíntese procurando drogas já existentes no mercado que possam inibir no parasita estas vias metabólicas. Isto é importante porque buscar um novo medicamento significa muitos anos de trabalho e muito dinheiro! Se conseguirmos usar drogas já existentes na farmácia, o processo é muito mais rápido”, ressalta Katzin.

O parasita causador da malária tem parte do ciclo de vida de reprodução sexuada no mosquito e parte de seu ciclo de reprodução assexuada no homem. Inicialmente ele se aloja no fígado onde faz seu primeiro ciclo de multiplicação. Depois de alguns dias passa para as hemácias, onde se multiplica novamente. Ele destrói as hemácias, causando anemias e entupindo capilares. Além de causar modificações nas respostas imunológicas do organismo que podem levar ao "coma malárico" e matar. Isso só ocorre quando a infecção se dá por meio do Plasmodium falciparum, única espécie letal do parasita.

Embora procure novas drogas para tratar o problema, o objetivo do grupo não é substituir o quinino, composto utilizado desde a civilização inca para combater a doença, mas sim, complementar as opções de cura. Atualmente se utilizam também derivados do quinino.

Drogas hipocolesterolêmicas, utilizadas para baixar as taxas de colesterol, como a mevastativa têm surtido efeito positivo contra a o Plasmodium falciparum. O medicamento age interferindo o desenvolvimento do parasita dentro da hemácia, sua célula hospedeira, e inibindo a biossíntese do colesterol. Os terpenos, substâncias encontradas em plantas, são outros compostos estudados pelo grupo, e também têm se mostrado uma ótima arma contra os parasitas.

“O problema é que os mecanismos celulares e bioquímicos do protozoário são muito semelhantes aos dos seres humanos, já que ambos são células eucariontes. O nosso desafio agora é desenvolver substâncias que combatam o parasita, sem serem tóxicas ao organismo humano”, ressalta Katzin. Os medicamentos estão sendo testados, inicialmente, em camundongos e, posteriormente, em macacos, para só então, se estenderem aos seres humanos.

Segundo o pesquisador, a doença costuma ser negligenciada pelos grandes laboratórios, já que acomete regiões subdesenvolvidas, como a África, a Ásia e o Brasil, principais locais de foco do problema. Daí a importância de se procurar novas formas de baratear o tratamento.

O grupo conta com apoio da Fapesp, CNPQ, OMS (Organização Mundial da Saúde) e ainda realiza intercâmbios permanentes com pesquisadores de outros países, como a França e a Alemanha. Além disso, o ICB possui um laboratório em Monte Negro (RO), região de grande foco de malária por Plasmodium vivax, forma menos letal do problema. Apesar dos subsídios, a pesquisa ainda esbarra na dificuldade de importar insumos e materiais para desenvolver os trabalhos.

Cerca de 2,5 milhões de pessoas morrem no mundo por ano em decorrência da doença e o quadro ainda é mais dramático nas regiões carentes. A epidemia de malária, doença parasitária que atinge o maior número de pessoas em todo o mundo, também pode estar associada a fenômenos como o aquecimento global e os grandes deslocamentos populacionais causados por guerras civis, conflitos sociais e econômicos.

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