São Paulo (AUN - USP) - A depressão será a principal causa de incapacitação em 2020. Pelo menos é o que prevê um estudo feito pelo Banco Mundial, a Organização Mundial da Saúde e a Escola de Saúde Pública da Harvard. Juntamente com essa projeção, a pesquisa apontou, em 1990, o abuso de álcool, transtorno bipolar do humor, esquizofrenia e transtorno obssessivo-compulsivo entre as dez maiores causas de incapacitação no mundo. Baseado nesses dados, o psiquiatra do Hospital das Clínicas, Valentim Gentil, defende que o sistema de saúde deve priorizar os transtornos mentais.

“Existem escolhas de Sofia todo dia”, diz o psiquiatra ao se referir ao dilema que recursos escassos da área médica impõem. Ele aponta que é impossível que qualquer sistema possa oferecer cuidados e saúde a todos. Portanto, é necessário priorizar as doenças com tratamento mais custo-efetivo e que mais sobrecarregam a sociedade. Isso significa, muitas vezes, deixar de lado males graves ou altamente letais, para destinar investimentos àquelas que causam maior prejuízo econômico e social.

Valentim exemplifica esse prejuízo com o transtorno bipolar do humor. Segundo o médico, a maior parte do custo que o portador dessa doença traz para a sociedade é indireto, ou seja, não está imediatamente relacionado ao preço do tratamento. O prejuízo trazido por prisões, tentativas de suicídio e doenças associadas são exemplos dados pelo psiquiatra de como a doença sobrecarrega a sociedade. Ele também cita o livro “Loucura - A Busca de um Pai no Insano Sistema de Saúde", em que o ex-jornalista do Washington Post, Pete Earley, narra a história do filho bipolar Mike. Em um episódio emblemático, Mike entra na casa de estranhos para tomar banho de banheira. A polícia é chamada e o jovem, preso, ao mesmo tempo em que a lei norte-americana impede seu pai de interná-lo. Além disso, um estudo publicado no The Journal of Clinical Psychiatry indicou que pacientes com distúrbio bipolar apresentam uma taxa de suicídios trinta vezes maior que a de pacientes saudáveis, o que demanda atenção extra dos seus responsáveis.

A incapacitação causada pelas doenças mentais fica ainda mais grave quando se considera seus efeitos com aqueles que lidam com os doentes. “Vale lembrar que o problema dessas pessoas, quanto mais grave, interfere significativamente na vida de pelo menos um familiar e que, portanto, a maioria da população sofre, direta ou indiretamente, conseqüências dos transtornos mentais”, explica Valentim. Daí a necessidade, segundo o profissional, de que sejam elaboradas políticas públicas que tenham como alvo prioritário o tratamento de pessoas com problemas psíquicos.