São Paulo (AUN - USP) - Uma equipe de médicos do Centro de Pesquisa do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) descobriu por acaso que as tubas uterinas (antes chamadas trompas de falópio) são capazes de produzir células-tronco adultas. Essa descoberta representa uma nova perspectiva para a medicina regenerativa, que atualmente possui fontes limitadas de células-tronco e grandes barreiras legais e éticas para o uso de células-tronco embrionárias, as mais potentes.
As células-tronco têm potencial para regenerar órgãos. As embrionárias são capazes de se converter em praticamente todos os tecidos do corpo humano, mas o método de sua obtenção é polêmico, já que a maioria das técnicas implementadas nessa área exige a destruição do embrião. Contra essas técnicas, são fortes as objeções de ativistas contrários ao direito ao aborto. Segundo eles, a destruição dos embriões representa a morte de uma forma de vida humana.
No entanto, existem também as células-tronco adultas, encontradas no cordão umbilical, na placenta, na medula óssea e, agora, nas tubas do útero. Elas são menos potentes que as embrionárias, podendo se transformar em poucos tecidos humanos. Nos tratamentos médicos, as células-tronco adultas são geralmente retiradas do próprio paciente, oferecendo baixo risco de rejeição. Assim, os fragmentos de tecido das tubas uterinas “podem representar uma nova fonte potencial de células pluripotentes para medicina regenerativa”, segundo Tatiana Jazedje, bióloga do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP.
Jazedje conta que: “Não tínhamos a intenção de extrair células-tronco da trompa de falópio. Na verdade, queríamos cultivar as células do aparelho reprodutor feminino do endométrio, da trompa e até do sangue menstrual para que essas células servissem de suporte para a cultura de células-tronco embrionárias humanas”., em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
As células foram extraídas de tecidos descartados de cirurgias como retirada do útero e laqueadura, feitas em seis pacientes. Depois de isoladas, no entanto, um fato chamou a atenção de Jazedje e seus colegas de pesquisa: elas se dividiam rápido demais. Os cientistas resolveram testar a sua capacidade de diferenciação [transformação em diferentes tecidos do corpo]. Para provar que se tratavam de células-tronco, eles precisavam obter três tecidos diferentes a partir delas. Conseguiram quatro: músculo, gordura, osso e cartilagem.
Agora, os cientistas querem investigar por que as tubas, canais que ligam os ovários ao útero, são ricas em células-tronco. Como o endométrio demonstra uma extraordinária capacidade regenerativa depois da menstruação, do parto, ou de intervenções cirúrgicas (como a laqueadura); uma hipótese é que as células-tronco adultas presentes nas tubas uterinas sejam responsáveis por esses processos.