São Paulo (AUN - USP) - Nos últimos 30 anos, aumentou o grau de intimidade que se pode obter num relacionamento com menos compromisso. De acordo com o professor Ailton Amélio da Silva, do Instituto de Psicologia da USP, também houve um aumento no número de casais que decidem apenas morar juntos, ao passo que declinou o número de noivados. Essas são apenas algumas mudanças que o professor observa nos padrões dos relacionamentos amorosos atuais comparados aos de antigamente.
O professor explica que o declínio no número de noivados pode ser explicado por uma mudança nas tradições e pela multiplicação de formas de se conduzir um relacionamento. Se antes o flerte levava ao namoro, depois ao noivado e finalmente ao casamento, hoje as relações amorosas funcionam de uma maneira diferente.
Atualmente, o “ficar” se firmou como um estágio praticamente obrigatório entre os apaixonados. Além disso, surgiram diversos estágios intermediários, como o “rolo” ou a separação, que passou a fazer parte da vida amorosa da sociedade. Segundo o professor, isso sinaliza um aumento da liberdade de escolha dos casais. “Hoje, aumentou o espaço para se fazer o que se quer numa relação”, diz. Ele compara os relacionamentos românticos à sapatos: antes todos tinham que calçar 37, que é a média. Agora cada um se acomoda com seu tamanho preferido.
Para Ailton, essa mudança foi resultado de vários fatores, inclusive da queda do duplo padrão na sociedade, ou seja, da igualdade, cultural e jurídica, dos direitos dos homens e das mulheres. Outra condição que permitiu as transformações das maneiras de amar foi o surgimento de métodos mais efetivos de prevenção da gravidez. Também pesou a modificação das barreiras que impediam o fim de um relacionamento. Segundo o professor, essas barreiras enfraqueceram, o que permite que casais se desfaçam com maior facilidade. Ele também aponta que esse dado possui tanto um impacto positivo, já que facilita a dissolução de relacionamentos que não funcionam, como um negativo, pois facilita a desistência e diminui o interesse das partes em devotar recursos para fazer a relação funcionar.
Ainda sobre as mudanças nos padrões de relacionamento, Ailton explica que elas não ocorrem somente na sociedade, mas também nos indivíduos ao longo de suas vidas. Ele diz que as experiências que uma pessoa tem na infância, seus pais, seus amigos e seus professores determinam a escolha de seus futuros parceiros. Porém, conforme o individuo vivencia experiências amorosas, como a decepção, por exemplo, ele aprende e adapta seus padrões iniciais. O professor alerta que quando isso não ocorre é preciso procurar um terapeuta para descobrir o porquê da pessoa não conseguir se interessar por outro modelo de parceiro. É o típico caso da “mulher que gosta de apanhar”.