São Paulo (AUN - USP) - Ao contrário das afirmações de analistas da área de segurança veiculadas pela grande mídia, o aumento de gastos com armamentos na América do Sul e os acordos militares entre Colômbia e Estados Unidos e entre Brasil e França não constituem uma escalada militar regional. “Na verdade, os países latino-americanos têm investido muito pouco em tecnologia militar”, afirma o professor Rafael Duarte Villa, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP).
“Não é correto afirmar que tem subido o gasto militar na América Latina”, diz ele. Segundo o professor, o cenário de investimentos em armamentos na região é muito heterogêneo e envolve valores financeiros bastante baixos.
O Brasil aplica em torno de 1,5% do seu PIB no setor militar. Na Venezuela, estes gastos não ultrapassam 1,4%. Já o Chile realiza investimentos mais elevados, na ordem de 3,5%. “O Chile tem uma característica especial, pois 10% das exportações de cobre são utilizadas em gastos militares. Isso faz com que seus gastos estejam acima dos outros, com exceção da Colômbia”.
De acordo com Villa, o Chile pretende atingir o Status OTAN, uma categoria conferida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) a países considerados confiáveis e que obtiveram aprimoramento na sua capacidade militar. Já a Colômbia vem investindo mais no setor militar devido às compras feitas regularmente dos Estados Unidos para o combate ao narcotráfico.
“Tem se falado muito em corrida armamentista, mas isto mostra uma falta de perspectiva e de informação dos analistas da imprensa. Países como a Argentina e o Peru não estão gastando praticamente nada”, diz o professor. “Quando você compara a estrutura do gasto militar na América do Sul, mais de 80% é com pagamento de pessoal. São gastos em folha, com pensões, com material de consumo, treinamento. O que sobra para gastar com compra de armamentos é muito pouco.”
Ganhos Políticos
Os investimentos do Brasil no setor militar visam a objetivos bastante específicos. Na cerimônia de assinatura do acordo de cooperação militar com a França, celebrado em 7 de setembro deste ano, o presidente Lula reiterou a vocação pacífica do país, mas enfatizou a necessidade de defender as fronteiras amazônicas. Houve também referências à proteção de regiões estratégicas, sobretudo a área do pré-sal.
“Acho que o presidente Lula não foi muito feliz quando ele vinculou a questão da compra de armamentos à questão da luta por recursos”, opina Villa. “Aí, ele passou a sensação de desconfiança de que o Brasil estaria modernizando seu equipamento militar porque estava prestes a se tornar um produtor de hidrocarbonetos. Na verdade, existem elementos de outra natureza. Primeiramente, temos a modernização das forças armadas brasileiras que estão bastante caducas.”
Efetivamente, nas últimas décadas, o Brasil tem comprado equipamento de segunda mão ou com tecnologia defasada. Mas, mais importante do que isso, é a perspectiva de ampliação da influência política do Brasil na América do Sul.
“O Brasil não está comprando equipamento militar porque pensa em entrar em guerra com ninguém, mas porque, com esta compra, tem possibilidade de grandes ganhos políticos, de aumentar sua influência na política regional e sua participação em missões importantes do ponto de vista internacional, como por exemplo, no Haiti”, afirma Villa.