São Paulo (AUN - USP) - “Este é um momento-chave para o Brasil. Essa é a hora do Brasil demonstrar que tem capacidade de liderança, que ele pode comandar um processo de geração de instituições que atendam aos interesses de segurança e defesa regional”. A afirmação é de Rafael Duarte Villa, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, e se refere ao papel do Brasil na União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

“A idéia da Unasul era criar mecanismos regionais integrados de segurança e defesa para os países sul-americanos”, diz Villa. Porém, desdobramentos políticos recentes, como o acordo para instalação de sete bases militares norte-americanas na Colômbia e as tensões entre Bogotá e Caracas tendem a enfraquecer esta tentativa de integração.

“As coalizões são muito orientadas por problemas. Cada coalizão responde a uma situação”, afirma Amâncio Jorge Silva Nunes Oliveira, também professor do IRI. Segundo ele, a Unasul é uma coalizão sub-regional para gerir problemas de segurança coletiva. “É um entendimento de que os países da região têm problemas de segurança em comum, precisam ter uma instância para acionar, um fórum de coordenação e de ativação política”.

Amâncio recorda que os países latino-americanos são historicamente resistentes a esforços de coordenação global. Ele não acredita na possibilidade da Unasul atingir a dimensão da União Européia, por exemplo, um fórum em que as instituições supra-nacionais já detêm a prerrogativa de regulamentar a política doméstica dos Estados-membros. “É ainda no nível do próprio governo que se tomam as decisões. Na verdade (a Unasul) não é um fórum deliberativo. É um fórum de negociação. Então, eu diria que a cultura de avanço das instituições supra-nacionais está muito longe de acontecer”.

Diversidade de Objetivos
Para Rafael Villa, no entanto, não é a tradição nacionalista, mas, sim, a diversidade de objetivos que representa o principal empecilho para a Unasul funcionar realmente como um acordo de cooperação em segurança no curto prazo. O problema do fórum, afirma o professor, é que ele reúne Estados com objetivos muito diferentes. “O Brasil tem um projeto mais global, de fazer (da Unasul) um instrumento de segurança mais autônomo na região. Mas ali há, também, posições bastante diferenciadas, caso da Venezuela, que defende a Unasul como um instrumento para se opor à presença americana na região. Ou posições mais moderadas, como o Chile e a Colômbia, que tendem a ter mais concordância, com maior ou menor intensidade, com os Estados Unidos.”

Para Villa, uma das principais vantagens da Unasul, é que o fórum poderá oferecer tratamento adequado a problemas de caráter social que vêm recebendo respostas de ordem militar. “Os principais problemas de segurança da região têm como causas as fragilidades sociais e institucionais. Então, a Unasul poderia dar uma resposta diferenciada, como no caso do combate ao narcotráfico na Colômbia, na Bolívia e no Peru. São problemas sociais que requerem não políticas militares, mas políticas públicas”.

O momento é oportuno para o Brasil. “O Brasil não deve perder de vista que o governo da Colômbia e o da Venezuela polarizam ideologicamente a agenda”, afirma Villa. “O Brasil deve ser muito habilidoso em tentar separar esse confronto dos objetivos, da agenda de negociações da Unasul, porque isso pode minar as próprias possibilidades do Brasil desenvolver um papel de construtor de instituições.”