São Paulo (AUN - USP) - Trinta e três milhões de portadores no mundo. Vinte milhões de mortos. Vinte e cinco anos de pesquisa. Com esse saldo, as perspectivas para uma vacina contra a AIDS hoje são positivas. O médico Edécio Cunha Neto, do Laboratório de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina (FM) da USP espera testes de proteção em primatas – já que camundongos não são infectados pelo vírus – para posterior ensaios clínicos em humanos, o que pode estimular ou até mesmo comprovar a eficiência da construção vacinal HIVBr18, a primeira desenvolvida no Brasil.
Tais estudos contam com a colaboração de entidades, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), especializada em febre amarela, e também universidades estrangeiras como a de Montreal e a de Wisconsin, responsável pelos testes em primatas.
A infecção viral pelo HIV vai evoluindo para uma imunodeficiência e pode, durante esse processo, esbarrar em alguns mecanismos de proteção do organismo. Um deles é natural: a evolução fica lenta e pode durar cerca de 15 anos. Exemplos disso são casais em que um é infectado pelo vírus e o outro não, apesar do sexo sem camisinha, e filhos saudáveis de mães soropositivas. Outro é induzido: a vacina.
Proteínas diferenciadas
Entre as atuais pesquisas realizadas na FMUSP, destaca-se o estudo genético em pacientes que possuem a progressão lenta da infecção. Com resultados estimulantes, advindos da descoberta de proteínas diferenciadas nos genomas estudados, a pesquisa se concentra em testar se é possível produzir determinada substância química. Tal substância atuaria em receptores, desencadeando uma resposta que pudesse desenvolver os mesmos correlatos de proteção que essas pessoas possuem.
A vacina injetaria anticorpos neutralizantes que previnem a infecção, princípio utilizado na mais recente descoberta norte-americana, na qual pesquisadores apontam anticorpos capazes de aniquilar o vírus. Ou ainda, a vacina diminuiria o pico da viremia, controlando sua progressão, bem como a transmissão da doença.
As pesquisas para se conseguir uma vacina geralmente são demoradas e cheias de tentativas fracassadas. Há 120 anos, por exemplo, que se busca uma imunização contra a tuberculose, e até agora não foi encontrado nada suficientemente eficaz. Contra a poliomielite, levou-se 47 anos. É difícil chegar a uma fórmula final que tenha uma grande amplitude de resposta e cobertura populacional de cerca de 90% a 100%. A expectativa na FMUSP, entretanto, é boa.