ISSN 2359-5191

06/10/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 68 - Saúde - Faculdade de Medicina
Medicina Nuclear ajuda a mudar vida de hemofílicos

São Paulo (AUN - USP) - Em Cuiabá, onde, há seis anos, o médico Paulo Eduardo Assi tenta melhorar a vida de hemofílicos de todo o Brasil, através da medicina nuclear, o resultado é claro. Muitos dos que sofriam cerca de 20 hemorragias anuais passaram a ter apenas três, após uma única aplicação dos radioativos. Um controle de 132 casos apontou ausência total de sangramento por um ano em 33% deles. A maioria teve uma redução de 50%.

É claro que o tipo de resposta ao tratamento depende do grau de comprometimento da articulação do paciente. Mas, na maioria dos casos, a medicina nuclear mostrou-se eficaz e com baixos efeitos colaterais. Todas as aplicações em joelhos aumentaram a amplitude de movimentação do mesmo, com exceção das aplicações em dois cotovelos e quatro tornozelos que a diminuíram.

Existem dois tipos de hemofilia, mas, em ambos, falta atividade em um fator de coagulação do sangue, o que condena o paciente a hemorragias incontroláveis em qualquer lugar, pelo resto da vida. Tal fato diminui significativamente a qualidade de vida do hemofílico.

Os sangramentos podem ser espontâneos ou pós-traumáticos, dependendo da gravidade da doença. Nos casos mais graves há menos de 1% da atividade do fator e o paciente sangra espontaneamente desde a infância.

As hemorragias podem ser perigosas, como hematomas na cabeça e cervical, e também dentro das articulações, as hermatroses, que correspondem a 80% dos sangramentos. Mais grave ainda é a freqüência dos casos de artropatias crônicas ou graves, decorrentes das hermatroses. Muitas vezes o estado é irreversível e os hemofílicos ficam com articulações deformadas para sempre.

Cerca de 80% dos pacientes que sangram em média a cada uma ou duas semanas, vão evoluir no decorrer da vida para uma artropatia crônica, pelo menos em uma das articulações.

Os cuidados preventivos incluem evitar remédios comuns, como a aspirina, e até mesmo esportes. As crianças precisam de mais atenção que as outras, por causa dos machucados, que é uma das coisas mais naturais da infância.

Segundo a especialista Paula Villaça, professora de medicina da USP, um dos principais objetivos dos hematologistas no País, é fazer com que a maior gravidade da doença se transforme em uma de grau mais leve através da reposição do fator que falha nos hemofílicos.

Tal reposição de fator é endovenosa e se constitui no tratamento básico para combater a doença. Paula conta com uma equipe multidisciplinar de médicos, dentistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, e a quantidade de fator reposta, ou mesmo o período entre uma reposição e outra, depende do estado clínico de cada um. Na maioria dos casos varia de 30 a 50%, a cada um ou dois dias.

Apesar de derivada de uma recessividade genética não muito freqüente, a hemofilia atinge, em média, 10 mil brasileiros. O País conta com apenas três laboratórios de distribuição das proteínas para tratamento, e já chegou a ficar cinco meses sem o remédio, em vários estados, no ano passado.

Tratamento e riscos
A medicina nuclear age destruindo a chamada sinóvia hipervascularizada (sinovite) que evolui para uma artropatia mais grave. A confirmação da presença de sinovite ocorre através de um exame, a cintilografia óssea trifásica. Para a destruição da sinóvia hipervascularizada, o médico nuclear injeta radiofármacos (no Brasil, o ítrio e o samário) que são englobados pelas células de defesa do organismo, em excesso numa inflamação. Com a distribuição dos radiofármacos na articulação, o paciente fica imóvel por 48 horas e é tratado com antiinflamatórios e fisioterapia.

O risco de extravasamento de material radioativo para o sistema sistêmico, com conseqüentes complicações como dermatite e até mesmo câncer, é o ponto de discussão entre hematologistas e oncologistas. Segundo o médico Paulo Assi, esse risco é baixo e pode ser controlado com checagem e descontaminação.

O tratamento, ainda não incorporado pelo Ministério da Saúde, exclui grávidas, pessoas com infecção no local da aplicação, febre, e, em muitos casos controversos, pacientes com histórico de câncer. Atualmente, o procedimento conta com o Centro de Radiofarmácia do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) e muda significativamente a vida do hemofílico, diminuindo-lhe a morbidez e possibilitando-lhe a esperança de uma vida, se não normal, a menos degradante possível, já que, em se tratando de doenças como essa, tempo é dano.

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