São Paulo (AUN - USP) - A má distribuição de cirurgiões-dentistas no território nacional é uma das causas da precariedade do atendimento odontológico à população. Hoje o país conta com aproximadamente 163 mil profissionais para uma população de por volta de 169 milhões de brasileiros, o que garantiria uma relação de quase um cirurgião-dentista para cada mil habitantes, bem acima da relação recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de um cirurgião-dentista para cada 1.500 habitantes. São Paulo, por exemplo, dispõe de 1 profissional para cada 635 habitantes, ao passo que no Maranhão, esta relação cai para 1/4.950.
Os dados são de um levantamento capitaneado por Plínio Marcos Modaffore, professor convidado da Faculdade de Odontologia da USP, para quem o descompasso entre a quantidade de profissionais e a qualidade da saúde bucal dos brasileiros é preocupante. “Hoje, mesmo com o excesso de faculdades e a baixíssima remuneração do profissional recém-formado, a atenção à saúde bucal da população está longe de ser satisfatória”.
Embora a pesquisa tenha se limitado a estabelecer um mapa da má distribuição dos dentistas no país, Modaffore cita algumas possíveis razões para o aparente paradoxo. “A maior disponibilidade de materiais, equipamentos e serviços de manutenção nas regiões Sudeste e Sul, e principalmente um mercado consumidor de maior poder aquisitivo e mais bem informado sobre os serviços dentários ainda pesam na balança, apesar da supersaturação desses mesmos mercados”, argumenta. Além disso, em muitas regiões remotas do país a população procura quase que exclusivamente o serviço público quando precisa de atendimento odontológico, diminuindo ainda mais o mercado para profissionais autônomos.
Segundo Modaffore, no entanto, a discrepância regional tem também causas culturais. “Ás vezes o paciente troca a visita ao dentista pela compra de uma calça nova, por falta de conhecimento sobre a importância de sua saúde bucal”, queixa-se. Para ele, os mitos de que todo tratamento dentário é caro e doloroso, e de que todo dentista é rico ainda prevalecem no imaginário das pessoas e são muitas vezes reforçados pela mídia. Segundo dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), apenas 30% da população brasileira como um todo fazem uso de algum tipo de serviço odontológico.
Para os profissionais dispostos a sair dos grandes centros, Modaffore recomenda consultar o site do IBGE antes de fazer as malas. Informações como número de habitantes, distribuição etária e por gênero, caracterização das atividades econômicas e até a cobertura de saúde existente no destino desejado são determinantes para as perspectivas de sucesso profissional. “Tenho um conhecido que foi um dos primeiros dentistas a se estabelecer em Palmas, capital do estado de Tocantins, ficando quase quatro anos sozinho na cidade. É claro que ele fez sua vida em pouco tempo”, comemora.
Histórias de sucesso à parte, os dados confirmam que já temos profissionais de sobra. O que falta é distribuí-los em nosso imenso território e criar as condições econômicas e culturais para ampliar o acesso da população ao atendimento odontológico, desafio a que o novo governo terá que enfrentar com seriedade e políticas públicas inteligentes.