ISSN 2359-5191

27/10/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 75 - Educação - Instituto de Psicologia
Sociedade esconde significado da morte para adolescentes

São Paulo (AUN - USP) - O desejo de viver em oposição à morte que se aproxima a cada dia e o desejo de morrer versus a vida com tanto a oferecer aos jovens. Para discutir o enfrentamento dos adolescentes com a morte, as psicólogas Santina Rodrigues e Nely Nucci participaram, durante uma tarde chuvosa, da mesa-redonda Autonomia dos adolescentes nas decisões sobre vida e morte. A mesa faz parte de uma série de encontros promovida pelo Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM), que há três anos coloca em debate dilemas éticos relacionados a algo que poucos falam, mas para o qual todos estão destinados: a morte.

De um lado, têm-se jovens com tendências suicidas. De outro, os que, apesar de estarem com doenças terminais, desejam a vida. Todos passando pela mesma fase: a adolescência. Segundo a psicóloga Nely Nucci, essa etapa é a intermediária entre as brincadeiras de crianças e os conflitos dos adultos. “É um pontinho escuro entre questionamentos ingênuos da infância e a melancolia adulta”, explica. Um momento difícil, repleto de paradoxos, ambivalências, radicalizações, indefinições, dúvidas e cobranças. Fazendo um paralelismo com Caetano Veloso, ela simplifica a adolescência a três elementos: sangue, suor e lágrimas. São a vida pulsante, a energia visível e o sofrimento, que resumem esse período.

“Não é esperado que jovens morram ou tenham doenças graves”, conta Nely, da mesma forma em que pais se surpreendem quando percebem que seus filhos já não desejam viver. Para Santina Rodrigues, poucos são os pais que, de fato, ouvem o desejo de morte dos filhos, sempre abafado pelo discurso da vida promissora pela frente. “Não se pode falar na morte, todos lutam pela vida, e a morte está distanciada”, completa Nely.

Apesar de tanto uma psicóloga quanto à outra estarem em extremidades opostas - Nely lida com jovens que apresentam doenças graves, mas não querem morrer, e Santina com aqueles que desejam se matar -, é no afrontamento da morte em que elas se convergem. “Tem que ser oferecido ao adolescente a possibilidade da morte. E somos nós que devemos fazer isso”, explica Nely.

Se antes as pessoas cresciam com a proximidade da morte, atualmente ela tornou-se tabu. Poucas são as crianças que vão a velórios - da mesma forma em que os cemitérios se transformaram em jardins. “Túmulos aparentes estão desaparecendo”, diz Santina. Com isso, vai-se amenizando o sentido de morte e se afastando a possibilidade do fim da vida. “A ênfase na vida, no vigor, não oferece espaço para pensar a morte”, comenta.

Sendo assim, a falta de contato com a morte dificulta a situação do jovem quando posto em situação de risco. “Os adolescentes não têm vivência com a morte. Só quando são forçados a isso é que acabam construindo um significado para ela”, comenta Nely. Em seu caso, no qual muitos jovens estão doentes e praticamente morrendo, a autonomia deles é dificultada justamente pelo discurso recorrente pró-vida.

Em casos de adolescentes em questões de risco, Nely e Santina concordam que deve ser aberto um espaço de comunicação para que o adolescente tenha autonomia de construir seu próprio caminho. Deve-se escancarar a morte, sempre tão escondida pela sociedade pós-moderna. Permitir o debate sobre ela, e abrir um espaço para que a dor seja manifestada e não reprimida. Afinal, dor e morte pertencem a qualquer ser humano. Seja ele adolescente ou não.

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