São Paulo (AUN - USP) - Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e apresentado, para análise e, em primeira mão, a alunos e professores da Faculdade de Medicina (FM) da USP, associou transtornos psiquiátricos e comportamentos de risco no trânsito. Ansiedade e mudanças de humor, bem como o uso de substâncias químicas, foram encontrados em maiores proporções nos motoboys, comparados ao restante da população motorizada – cerca de três vezes maior o consumo do álcool e seis vezes o da maconha.
De plantão contínuo, durante três meses, em dois centros de traumas de Porto Alegre, a pesquisa analisou acidentes de trânsito e a presença de álcool nos mesmos. Dos que havia alcoolemia positiva, 68% envolviam motociclistas. E não surpreendentemente, 34% de todos os motoristas acidentados acreditavam que sua habilidade de dirigir estava afetada, mas mesmo assim pegaram a direção.
O estudo utilizou um simulador de moto, onde acredita já ser possível reconhecer alguns dos transtornos nos entrevistados e também, poder prevenir muitos acidentes fazendo os motociclistas passarem pelo programa e reconhecerem distúrbios de direção.
Além disso, através de telefonemas e análises de dados comportamentais, autorizados por 87% dos entrevistados, comprovou-se, estatisticamente, que de todos os motoristas que dirigiam alcoolizados, 35% tinham algum traço de depressão.
Drogas e motoristas profissionais
O Brasil não tem dados suficientes sobre o uso de drogas – a não ser o álcool – e a direção.
Alunos da FMUSP tentaram mudar um pouco o rumo dessa história e realizaram uma pesquisa com 308 motoristas profissionais, nas estradas da BR-116, incluindo as rodovias Dutra, Fernão Dias e Rio Bonito, próximo a capital do Rio de Janeiro.
Os pesquisadores basearam-se em entrevistas e análises toxicológicas, em que perceberam, além do consumo de álcool nos finais de semana, em mais da metade dos caminhoneiros, o uso freqüente de drogas em cerca de 10% deles, principalmente dos famosos rebites, a anfetamina.
Houve, entretanto, durante a realização das pesquisas, uma queda gradativa na porcentagem do uso de anfetamina, e um aumento no uso da cocaína. Os próprios motoristas relataram estar passando de uma droga para a outra. Mas, apesar dos resultados, isso não pode, ainda, ser considerado uma tendência. Nesse sentido, os alunos pretendem estender os estudos para as cinco regiões do Brasil.