ISSN 2359-5191

02/11/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 77 - Economia e Política - Escola de Educação Física e Esporte
Para J. Hawilla, administração esportiva ainda é amadora

São Paulo (AUN - USP) - Há alguns anos, ouvimos muitos comentaristas de futebol dizer que o Brasil tem os melhores jogadores do mundo e os piores administradores. E essa é justamente a opinião de J. Hawilla, presidente do grupo Traffic, que também prevê um grande aumento no número de gestores de esporte para os próximos anos, tendo em vista os importantes eventos que o País sediará na próxima década.

“Nos clubes, nunca sobra dinheiro para as categorias de base. Os dirigentes se preocupam apenas em ganhar o jogo de domingo”, afirma Hawilla em palestra realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. Segundo ele, a desorganização começa pelo “Clube dos 13”, que deveria visar à profissionalização do esporte. “Eles se reúnem somente para discutir a partilha dos direitos de transmissão. Não têm a menor relação com o torcedor, que é seu consumidor”, argumenta.

No Brasil existem grandes exemplos de má administração esportiva. Os times mais tradicionais do Rio de Janeiro e São Paulo, Flamengo e Corinthians, com 104 e 99 anos respectivamente, não têm estádio nem centro de treinamento. O presidente da Traffic argumenta que muita gente despreparada entra no meio esportivo. “Não são todos que têm habilidade para dirigir o futebol. O profissional deveria começar lidando com as finanças de um time pequeno. Desse jeito, cresceria na carreira e daria bons resultados ao clube enquanto fosse seu gestor”, explica Hawilla.

Gladiadores modernos
Além do mercado de marketing esportivo, a Traffic também atua na formação de atletas e é dona dos times Miami, dos Estados Unidos, Estoril, de Portugal e Desportivo Brasil, de Porto Feliz, onde mantém um centro de treinamento. O CT desenvolve cerca de 100 jovens atletas nas categorias sub 15, sub 17 e sub 20 e, para Hawilla, mais importante que formar jogadores é formar homens.

“Hoje a gente vê jogadores que nunca estudaram, que não sabem ao menos pegar em um talher. O CT começou como um projeto social e, para isso, contamos com aulas de inglês, espanhol, higiene, etiqueta, palestras educativas e outros acompanhamentos que muitos clubes não oferecem”, explica Hawilla. Para ele, o futebol atual exige muito preparo físico, mas a técnica está cada vez mais escassa. Para acompanhar esse dinamismo, produzem-se verdadeiros gladiadores e a formação humana é deixada de lado.

Apesar de estar próximo de garantir o acesso à Série A-3 do Campeonato Paulista, o Desportivo Brasil tem como finalidade, inicialmente, registrar jogadores para futuras negociações. Como no Brasil uma pessoa não pode deter os direitos de um atleta, o time fica incumbido desse papel. É o caso de mais de 10 jogadores do Palmeiras, em que a Traffic investiu cerca de 23 milhões de reais, que quando são negociados têm mais de 50% de seu valor repassado para a empresa.

Segredo do sucesso
Questionado muitas vezes sobre sua bem sucedida carreira, J Hawilla afirma que para se obter sucesso é necessário ter ambição. “Tudo é consequência. A ambição leva a determinação. Com isso, deve-se dedicar muito ao trabalho. Por fim, a sorte contribuirá, mas só para quem trabalhou duro”. Hawilla atuou por 15 anos como jornalista, até perceber que queria ser empreendedor. Em sua primeira empresa, Gol de Placa, investiu em publicidade para placas de campo de futebol e, cerca de sete anos depois, quando comprou a Traffic, implantou a mesma ideia.

Como o mercado era muito novo, o retorno era garantido, pois ninguém sabia quanto valia um espaço em um campo de futebol que ficava exposto na TV por 90 minutos. Em alguns eventos, como a Copa América de futebol, Hawilla se lembra de ter dado os direitos de transmissão a alguns países, contanto que um determinado número de jogos fosse transmitido, para que a publicidade ficasse em evidência. Hoje, com o crescimento da competição, ela é vendida para mais de 204 países do mundo todo.

Após algum tempo, essa publicidade começou a incomodar anunciantes da Rede Globo que apareciam poucos minutos no intervalo dos jogos e pagavam mais que os anúncios de campo. Nessa época, Hawilla ainda era jornalista e trabalhava na Globo ao mesmo tempo em que administrava os espaços publicitários nos campos, o que gerou um conflito de interesse em sua carreira: ele comprava os direitos de transmissão para a emissora e negociava a publicidade nas placas do campo com anunciantes concorrentes aos da Rede Globo. Curiosamente, após mais de três décadas, Hawilla pode enfrentar outro conflito de interesse. A Traffic atua no Interior de São Paulo com TVs afiliadas da Rede Globo, o jornal Bom Dia e recentemente efetuou a compra do Diário de S. Paulo. O leitor poderá ficar em dúvida quanto à imparcialidade desses jornais quando uma matéria analisar a atuação de um jogador cujos direitos pertençam à Traffic.

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