São Paulo (AUN - USP) - Cerca de 16% da energia produzida no Brasil deriva do etanol obtido a partir da cana-de-açúcar. A participação do etanol na matriz energética brasileira supera as hidrelétricas e só está abaixo do petróleo. De acordo com o economista Marcos Sawaya Jank, professor associado da Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP) e um dos fundadores do Instituto de Relações Internacionais (IRI/USP), o etanol já é a segunda maior fonte de energia nacional e tem grandes possibilidades de se tornar a mais importante delas. “O potencial é imenso”, diz ele. “Estamos falando de pelo menos duas Itaipus”.
O economista ocupa, atualmente, a presidência da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), a maior entidade representativa do setor sucroalcooleiro do Brasil. Jank apresentou a palestra O Brasil e a certificação socioambiental: o caso do etanol, promovido recentemente pelo IRI.
Em 2008, foram investidos US$ 20 bilhões no setor sucroalcooleiro, que faturou US$ 28 bilhões. As exportações chegaram a US$ 7,9 bilhões, equivalendo a 2% do PIB nacional. O Brasil respondeu por 30% do etanol exportado para o mundo, gerando 845 mil empregos diretos. Entre os maiores investidores no álcool de cana brasileiro destacam-se a área automobilística, a indústria do plástico, a agroindústria e até empresas petrolíferas.
Os Estados Unidos e a União Européia representam os principais compradores de etanol nacional. Projeções da Unica indicam que o mercado norte-americano poderá movimentar mais de US$ 135 bilhões até 2022. Apesar disso, o comércio internacional de álcool etílico ainda é extremamente protegido por barreiras tarifárias. A proteção de fronteiras contra o álcool brasileiro deriva da forte pressão política dos lobbies de produtores de milho nos Estados Unidos e de trigo e beterraba na Europa.
Certificação de sustentabilidade
Ainda assim, para Jank, a comprovação de critérios de sustentabilidade na fabricação de etanol, nos próximos anos, terá maior importância do que as barreiras tarifárias. Para o economista, os sistemas de certificação constituem uma medida de averiguação eficaz de que as empresas estão cumprindo as normas de produção sustentável.
Não existe, até o momento, um modelo de verificação plenamente desenvolvido. O mais avançado deles é o selo promovido pelo British Standards Institution (BSI), o qual envolve observações em toda cadeia produtiva do etanol e inclui ONGs, empresas, comunidades etc.
Uma das maiores preocupações do setor é garantir que a expansão da cana-de-açúcar não irá promover mais desmatamento. Atualmente, a cana ocupa 2% das terras aráveis do Brasil, espaço três vezes menor do que a soja e 25 vezes menor do que a pecuária. As projeções da Unica indicam que, no limite, a produção alcançará cerca de 7% das terras agriculturáveis, absorvendo áreas de pastagem, sobretudo no centro-sul do país.
O papel do etanol nas mudanças climáticas também tem sido colocado na agenda internacional. “Clima é o DNA de quem trabalha nessa indústria”, afirma Jank. “Hoje, o grande debate que vai direcionar o futuro do etanol é sua capacidade de reduzir emissões de poluentes em relação a outros combustíveis”. De acordo com dados da Unica, o uso do etanol já evitou 600 bilhões de toneladas de emissões de gás carbônico, o que representa uma redução de 20% do total na área industrial.