São Paulo (AUN - USP) - Preocupação com o ambiente nutricional pode definir qualidade de alimentação. Fernanda Scagliusi, nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da USP e professora da Unifesp, aponta que no Brasil – especialmente nas regiões mais pobres – ainda existem muitos desertos alimentares, ou seja, barreiras físicas, econômicas e sociais que impedem uma alimentação adequada.
A constatação faz parte do que a nutricionista chama de “abordagem sensível e criativa da obesidade”, que diferentemente da abordagem tradicional, considera outros fatores para a doença além da suposta má ingestão de alimentos. Segundo Fernanda Scagliusi, determinada decisão alimentar não pode ser resultado apenas de um consentimento individual. Precisa-se pensar também no coletivo. “Gordura é uma questão sociológica. O problema da obesidade já começa com deficiências de saúde pública, quando há o pensamento deque ter filho gordinho é ter filho saudável ou ainda de que deve haver um imposto para obesos”, diz.
A nutricionista conta que a importância do ambiente nutricional na escolha dos alimentos integrou um estudo com mulheres obesas na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Nele, levou-se em consideração não só os valores nutritivos da comida, mas também os tipos de ponto de venda do alimento, pontos de comércio, custo e qualidade. Depois de análises por meio de entrevistas com moradores, visitas, vendas, cardápios e observação geográfica por região constatou-se que, de fato, a classe mais pobre é a mais prejudicada. “Desdobrando-se em diversos empregos e tarefas, como sobrar tempo para prática de atividade física, por exemplo? Absolutamente, no Brasil, a população de baixa renda é a mais afetada”, acrescenta Fernanda.
Entretanto, de acordo com a nutricionista, classificar se um ambiente é ou não saudável depende também do referencial de alimentação adequada. “Em outras palavras, a avaliação de um alimento deve estar atrelado a não só ao aspecto biológico e valor nutricional, mas também a outros fatores como gosto, identidade, forma de produção, de processamento e história”, completa. Fernanda Scagliusi assegura ainda que o estudo de ambiente nutricional apesar de recente é muito importante. “É preciso enxergar na obesidade um problema da sociedade e não apenas do indivíduo”, pontua.