São Paulo (AUN - USP) - O Brasil possui cerca de 250 mil dentistas, o que corresponde a mais de 11% da fatia global desses profissionais. Não obstante, este número equivale à população de dentistas dos EUA e do Canadá juntas. Em termos proporcionais, temos um dentista para um grupo de 842 habitantes, o que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é três vezes a mais do que o número ideal. A pesquisa chegou a alguns dados impressionantes.
A explosão da oferta de dentistas no mercado ficou patente nesse estudo realizado entre a Faculdade de Odontologia (FO) da USP, o Ministério da Saúde e outras entidades da classe. O projeto conhecido como “perfil atual e tendências do cirurgião-dentista brasileiro” teve a professora Maria Ercília de Araújo como representante da FO.
A tendência para os próximos anos é que os números aumentem ainda mais. O mercado recebe oito mil novos dentistas por ano; um crescimento de 4% sendo que a população brasileira está chegando à estabilidade, num crescimento de 2% ao ano. Apesar dessa fartura de profissionais no mercado, 16% dos brasileiros nunca foi ao dentista. Segundo o professor Plínio Augusto Rehse Tomaz, há uma “realidade de mercado desfavorável” e que deve ser levada em conta na escolha da carreira dos novos ingressantes.
Perfil e distribuição geográfica
São 183 faculdades de odontologia espalhadas pelo território nacional. 60% delas estão localizadas no Sudeste. A proporção de dentistas também é semelhante à de faculdades; uma violenta disparidade regional.
Do montante total de profissionais, metade tem menos de 40 anos, o que reforça o ensejo do estudo em mostrar o “boom” profissional por que passa a área. O mercado é dominado, sobretudo pelas mulheres: de cada dez dentistas, seis são do sexo feminino. O estudo ainda revelou dados importantes sobre o exercício profissional desenvolvido por esses cirurgiões-dentistas. Mostrou que a especialização ainda é pequena, mais de 70% deles são clinico-gerais.
Com a oferta excessiva de profissionais no mercado, os dentistas tiveram que lidar com o problema financeiro. Uma vez que a concorrência mostrou-se ferrenha, houve a demanda por mais horas de trabalho em detrimento do valor cobrado pelos procedimentos. 90% dos cirurgiões-dentistas diz trabalhar mais de 40 horas semanais e 60% deles ganham menos que cinco mil reais por mês, revelou o estudo. Todo esse panorama negativo reflete o número expressivo de profissionais que não escolheriam a odontologia como carreira se o pudessem fazê-lo, eles são 31% do montante total.
Horizonte
O professor Plínio Tomaz diz que as perspectivas podem ser alteradas se o dentista se empenhar em mudar o foco de algumas ações. “Eles têm a ‘síndrome do eu também’, todos querem ter um consultório e ele é uma empresa, mas nem todos são bons empresários”, explica. As alternativas residem em novos nichos de mercado como o serviço público, o serviço social em entidades como o Serviço Social do Comércio (SESC), o serviço privado (trabalhando para terceiros) e até a esfera militar.
“Precisa recuperar-se a auto-estima desses profissionais, que está muito baixa”, diz o professor. O planejamento da carreira, desde a entrada na faculdade, segundo o professor, mostra-se como o viés mais plausível e determinante no foco da carreira do futuro cirurgião-dentista.