São Paulo (AUN - USP) - Problemas amorosos fazem parte da vida de todos, e se não fazem, fizeram ou farão. “Desde que a gente nasce até quando a agente morre, somos afetados pela questão do amor”, diz o professor Ailton Amélio da Silva, do Instituto de Psicologia (IP) da USP. Quando se nasce, há o afeto vindo dos pais. Quando se morre, a solidão da viuvez. “É muito raro alguém que diga não ter defeito na área amorosa”, afirmou durante a palestra Tratamento psicológico de problemas amorosos. Mesmo no amor, nem tudo são flores. Se por um lado, ele é capaz de trazer imensas alegrias, por outro, é também repleto de tristezas.
Quem pensa que reclamações amorosas se restringem apenas às conversas de salão de beleza ou às de bares, enganou-se. Tratamentos psicológicos para problemas amorosos são cada vez mais freqüentes. Segundo Silva, diversos são os problemas que aparecem nos consultórios sobre conflitos sentimentais. A começar pelo início do relacionamento. Pessoas que não se interessam por outras, que não sentem atração, que não atraem ou que não sabem flertar, costumam ir com freqüência às sessões terapêuticas. Além delas, existem aquelas com dificuldades para desenvolver o relacionamento. “Tem gente que é perito em iniciar relacionamentos, mas não dura. Transou, não fica”, conta o professor.
Mas os problemas não terminam por aí. Alguns desenvolvem o relacionamento, mas não o fazem durar. Ou quando duram, não têm qualidade. E aqueles que procuram a terapia para repará-los? Também. Para terminar? Idem. Ou seja, em todas as fases do relacionamento problemas psicológicos podem se manifestar. E todas as pessoas estão sujeitas a eles.
Ainda assim, Silva afirma que nem todas as dificuldades são por motivos psicológicos. Muitas têm origem na situação em que a pessoa se encontra como as questões socioeconômicas. Desemprego, por exemplo, é um fator que muitas vezes aumenta os conflitos – tanto para iniciar um relacionamento, quanto para mantê-lo. Mas, apesar dos pesares, “o maior investimento que podemos fazer é em um relacionamento”, garante.
Papel do psicólogo
Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher, diz o ditado. Ninguém, exceto o psicólogo – mas com calma, muita calma. “É perigoso. A gente apanha também”, comenta o professor.
Por serem questões delicadas, o tratamento exige uma série de cuidados. O primeiro deles é o de não fornecer fórmulas mágicas e sim perspectivas. “A decisão é sempre do paciente, eu sou apenas o parteiro”, compara, porém, “sempre tento salvar [o relacionamento] (...). Têm casos em que permanecer junto é pior, é danoso”. Muitos casais que têm relacionamentos neuroticamente equilibrados, por exemplo, devem ser apenas acompanhados pelo psicólogo pelo risco que a relação oferece. Silva cita que esses são os casais com mais medo da terapia.
Para o professor, a análise de casos amorosos exige mais do que o conhecimento da teoria aprendida na faculdade. É preciso conhecer também dados atuais e pesquisas recentes, afinal, esses são os recursos que o psicólogo oferecerá ao paciente, que, em troca, expõe seus sentimentos.
Algumas técnicas também devem ser usadas no consultório. São detalhes simples, que fazem a diferença. Começar a sessão com uma conversa introdutória, oferecer um cafezinho, tornar o ambiente agradável (com luz quente – nunca fria!), tomar cuidado com a disposição dos móveis, motivar quando o assunto é ativado, tocar o paciente e observar a distância entre ele e o psicólogo, por exemplo, são alguns dos pontos que favorecem... a consulta.