ISSN 2359-5191

18/11/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 84 - Educação - Instituto de Psicologia
Universo escolar deve se aproximar das crianças

São Paulo (AUN - USP) - A distância entre a escola e as necessidades das crianças ainda permanece, dificultando o processo de aprendizagem. É o que vem apontando a tese de doutorado Por que aprender isso, professora? Análise do processo de atribuição de sentido pessoal, ainda em andamento, de Flávia Asbahr. Com orientação da professora Marilene Proença Rebello de Souza, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, Flávia pesquisa a importância e o papel social que as crianças atribuem à escola e ao estudo.

Para isso, a psicóloga passou boa parte do ano passado de volta às salas de aula. Por meio do acompanhamento de alunos da 4ª série do ensino fundamental de uma escola pública em São Paulo, a pesquisadora pretende analisar o ponto de vista das próprias crianças quando o assunto é aprender – algo raro entre os estudos já publicados. “Há poucas pesquisas em educação em que as crianças são os sujeitos”, conta.

Sua pesquisa de campo foi dividida em quatro momentos. O primeiro, etnográfico, consiste na observação de duas salas de quarto ano e escolha de uma. Enquanto na 4ªB encontravam-se alunos regulares, na 4ªC estavam aqueles com defasagens no processo de aprendizagem, cuja maioria já havia sido retida na 4ª série pelo menos uma vez. Flávia optou por esta última para seu estudo. “As crianças estavam em intenso processo de aprendizagem (...). Além disso, a professora procurava a todo o momento criar vários instrumentos mediadores do processo de aprendizagem”, explica a psicóloga, “e procurava dar uma atenção individualizada aos alunos de maneira que pudessem superar suas dificuldades”. Superaram. Segundo a pesquisadora, durante o ano que os acompanhou, alunos que mal sabiam ler ou escrever puderam avançar bastante nestes quesitos.

Após a observação, Flávia passou para o segundo momento, de experimento formativo. Nesse período, eram criadas situações de ajudas às crianças para que se pudesse acompanhar o processo de aprendizagem em curso. A psicóloga, de observadora, começou a ajudar as crianças, que, por sua vez passaram a vê-la como parceira de trabalho, solicitando seu auxílio e evoluindo em relação ao aprendizado. Depois, no terceiro momento, para ampliar a compreensão sobre os motivos das atividades de estudo dos alunos, a pesquisadora dividiu a sala em dois grupos e realizou entrevistas coletivas sobre a escola, a aprendizagem e as relações humanas no colégio em questão. Eram os grupos focais. Para finalizar, Flávia ainda entrevistou a professora e alguns alunos individualmente.

Para ela, ter se colocado no lugar da professora foi algo realmente importante. “Aprendi que nunca se pode julgar um professor se você nunca enfrentou uma sala de aula. Os professores muitas vezes são colocados como culpados de tudo o que acontece na escola e não se vê o quanto são vítimas”, diz. Mas é na percepção da distância que existe entre as curiosidades das crianças e ao estudo escolar, e na maneira de como é vista a escola, ou para que se aprende, que Flávia enfoca sua pesquisa.

Muitas crianças se aproximavam da psicóloga para perguntar sobre assuntos alheios às matérias dadas em sala, mas de extrema importância para o universo infantil. Foi o caso de um menino que tinha interesse pelos peixes Bettas – por possuir um em casa – e quando posto em contato com material sobre o assunto, leu empolgadamente. Ele era uma criança que costumava se recusar a ler alguns textos em sala de aula. Quando leu algo de seu interesse, se mostrou entusiasmado.

“As crianças querem aprender, mas não necessariamente aquilo que a escola oferece e da forma como oferece”, explica Flávia. “Quando conseguiam ver um sentido na tarefa (...), envolviam-se animadamente no que era proposto”. É justamente entender como é atribuído esse sentido o que procura a pesquisadora em seu Doutorado, a ser concluído em 2011. Para que assim possa ser diminuída a distância entre aluno e escola.

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