São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa realizada pelo professor da Harvard University, Aldo Musacchio, busca relacionar a utilização do dinheiro ganho pelos estados brasileiros no período da Primeira República, de 1889 a 1930, para analisar os impactos econômicos existentes até hoje. A partir da observação da desigualdade atual da sociedade brasileira, veio o interesse do professor realizar a pesquisa intitulada Dotações podem explicar desigualdade? Governos estaduais e a provisão de bens públicos no Brasil, 1889-1930.
O professor mostra que os estados com maior arrecadação per capita, foram os maiores exportadores de commodities como borracha, café e erva mate. Uma maior arrecadação possibilitou um gasto maior per capita em infraestrutura, segurança e educação pública.
O professor Musacchio também apresenta alguns dados relacionando número de escravos com gasto total público ou número de escravos com distribuição de terra. A maioria dos gráficos mostra que um maior número de escravos, resulta em menores investimentos e maior desigualdade. Outra comparação de informações mostra que quanto menor o investimento público, maior a mortalidade do estado.
Uma breve análise teórica realizada pelo pesquisador mostra que caso um estado não produtor de café, passasse a poder produzir café em seu território e lucrar com sua exportação, aumentaria em aproximadamente 355% do investimento em infraestrutura ou 71% na segurança pública, por exemplo, mas são apenas especulações teóricas.
Interesses da elite
Uma pergunta apresentada durante o seminário foi com que interesses a elite da época, controladora dos investimentos do estado, permitiu o investimento deste dinheiro em benefício do povo em geral, ao invés de construções ou melhoria de estruturas direcionadas apenas à própria elite.
Uma possível resposta seriam interesses políticos. Quando foi instaurado o requisito de alfabetização para o cidadão poder votar, os governantes ou coronéis passaram a precisar do mínimo de educação dos cidadãos para contar com um poder de barganha maior no cenário político nacional. O professor Mosacchio diz que “a elite fez a coisa certa, pelo motivo errado”.
Como conclusão da pesquisa, o professor apresentou que o nível de gastos públicos na época da Primeira República está correlacionado com o Produto Interno Bruto (PIB) total dos estados hoje. O choque econômico causado pelas commodities foi temporário, porém os gastos do capital gerado por eles foram em áreas que influenciaram em níveis posteriores, aparentando um choque mais longo.