ISSN 2359-5191

19/11/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 85 - Sociedade - Instituto de Relações Internacionais
Jornalista britânica afirma que imprensa brasileira permanece em dívida com o MST

São Paulo (AUN - USP) - A cobertura jornalística do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e da luta social no Brasil está comprometida pela parcialidade e pela abordagem unilateral. “A mídia ainda trata o MST como estereótipo”, diz a jornalista de origem inglesa, Jan Rocha. Jan, que foi correspondente da British Broadcasting Corporation (BBC) e do jornal The Guardian na América Latina, apresentou a palestra O Brasil dos correspondentes: atrás das manchetes, promovido recentemente pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI/USP).

Jan atuou profissionalmente desde 1973, quando se radicou no Brasil e passou a trabalhar como correspondente da região latino-americana. Cobriu o incêndio do edifício Joelma em São Paulo e a prisão do assaltante Ronald Biggs no Rio de Janeiro. Enfrentou as dificuldades de exercer a profissão na época do regime militar com telefones grampeados, ameaças anônimas e pressões dos órgãos de censura. Chegou a ser convocada a prestar depoimento no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e foi presa na Bolívia em 1980. “Naqueles anos, toda região do Cone Sul era dominada por ditaduras”, recorda a jornalista. “Eram tempos terríveis, de tortura, de desaparecidos, de mortes e repressão. Eram tempos emocionantes, às vezes, apavorantes, mas, sobretudo, fascinantes. Podíamos sentir que estávamos presenciando a História sendo feita, acompanhando, relatando, informando momentos e fatos fundamentais.”

Acusada, durante sua vida profissional, de perder a objetividade por se envolver demais com temas de Direitos Humanos, Jan se defende: “existe uma diferença entre ser imparcial e ser objetivo. Não se deve ser parcial entre o justo e o injusto, entre o torturado e o torturador”. Por isso, foi uma das fundadoras da Clamor (Comitê de Defesa dos Direitos Humanos para os Países do Cone Sul), organização destinada a denunciar as violações de cidadania durante as ditaduras militares de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. “Num encontro para marcar 30 anos da Anistia, disseram para mim: ‘você salvou muitas vidas’”, diz Jan. “Não há nada mais emocionante do que ouvir isso.”

Rompendo a cerca
Foram, contudo, os temas indígenas e da questão agrária que ocuparam uma parte importante da carreira da repórter. Jan Rocha começou a cobrir a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o MST na década de 90. Pretendia oferecer um contraposto à perspectiva parcial e não-objetiva de outros órgãos de imprensa como a revista Veja e o Jornal Nacional. De suas investigações resultou o livro Cutting the wire: the history of the MST (2002) traduzido no Brasil como Rompendo a cerca: a história do MST. “O que vimos na nossa pesquisa é que o MST é uma entidade que conseguiu criar espaços alternativos, que deu educação para milhares de pessoas. Isso é uma coisa fantástica.”

A jornalista considera que, desde o lançamento da obra, ocorreram grandes mudanças estruturais no movimento, mas a abordagem da mídia se mantém unilateral. “O MST está sob permanente ataque, sob pressão constante” afirma ela. “O número de mortes e de violências contra o MST é muito grande em todo o país. O número de pessoas presas por motivos triviais é imenso. Isso não é colocado nos jornais. Eu acho que a imprensa brasileira está devendo muito ao MST.”

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