São Paulo (AUN - USP) - O papel das cidades nas mudanças climáticas, os efeitos dos impactos nas zonas costeiras, a questão da bioenergia e o combate aos efeitos dos fenômenos naturais na sociedade foram algumas das discussões que rede temática da USP antecipou um quadro que será aprofundado no COP 15. Fruto dos resultados de pesquisas desenvolvidas por diversos palestrantes esta temática comporá encontro anual dos 50 países do COP (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), que se reúne em Copenhague no próximo mês.
O assunto principal, mudanças climáticas, foi estrategicamente escolhido, visto a grande relevância que vem ganhando desde a década de 90. E é essa a preocupação da COP desde 1995, que patrocina o encontro anual dos países membros, e analisa vários problemas, como a redução da emissão de gases de efeito estufa. Cada ano, a conferência é sediada em um país diferente. O coordenador do workshop, o professor Tércio Ambrizzi, afirmou que a rede temática da USP merece destaque por propor debate com diferentes docentes e por preparar o panorama que será levado a Copenhague.
Várias abordagens
Os professores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) mostraram suas pesquisas climáticas em aspectos regionais. Em um deles, a professora Maria de Fátima Andrade discorreu sobre os impactos do meio urbano no clima global.
A professora do IAG propôs algumas mudanças, como diminuição do nível de consumo, modificação das fontes de energia e utilização de outras tecnologias em veículos emissores de gases estufa. Ao discutir se as pessoas teriam que mudar radicalmente seus hábitos para possibilitar a sustentabilidade, ela considera um assunto difícil: “Eu não acredito que seja possível abrir mão de todos os confortos”.
Já Weber Amaral, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), mostrou a importância da bioenergia e dos biocombustíveis. Com uma visão favorável, ele apontou o dado de que 14,6% da matriz energética brasileira vem da cana de açúcar. O professor acredita que no futuro a biomassa será a principal matriz. Além disso, ele também destacou a importância da bandeira do biocombustível no país como forma de diminuir o consumo de petróleo no mundo.
Contudo, ressalvou que a liderança brasileira com os biocombustíveis pode ser perdida com as tecnologias desenvolvidas no exterior, que utilizam melhor o biocombustível em relação à emissão de gases de efeito estufa.
Outros temas tratados foram desde os impactos nas zonas costeiras até os efeitos socioambientais dos desastres naturais. O professor do Instituto de Oceanografia (IO), Eduardo Siegle, fez uma apresentação didática, apontando as alterações nas costas litorâneas brasileiras. Em todas, há evidências de interferência humana (antropogênica), seja direta, seja indireta, com a aceleração das mudanças climáticas.
Eduardo Siegle também criticou o fato de a mídia dar muito destaque à elevação do nível do mar, sem divulgar as alterações das marés e das ondas. Neste caso, ele citou o exemplo de um estudo que aponta as mudanças futuras na direção da incidência de ondas. Já os estragos provocados pelos fenômenos naturais foram outra abordagem em destaque. Exposta pela professora da UFSCar, Norma Valencio, a palestra foi baseada nos estudos que ela fez no Brasil e em Guiné Bissau. Ela observou que as mudanças climáticas causam desarrumação territorial e ruptura dos hábitos das pessoas. “O desastre é sempre um espaçamento de perda de território, perda do sujeito de atuar dentro de sua cidadania e (perda de) hábitos”.
Apesar das dificuldades enfrentadas quando acontecem esses fenômenos, Norma mostrou que é possível contorná-las ou, ao menos, evitar grandes tragédias. Constatou que uma forma de precaver a paralisia social se dá pela melhor disponibilização das informações à população. Ademais, ela acrescenta que é necessário “a superação dos preconceitos de que é impossível associar o fazer científico e política”. Ela usou o exemplo de sua experiência em Guiné Bissau, em que as lideranças deste país se mostraram preocupação com os fenômenos meteorológicos e sua divulgação à população.
Workshop da USP
Diferentes unidades tiveram participaram do workshop, como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Essas e outras unidades da USP também compartilharam suas diferentes visões com representantes de outras universidades, como a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade de Sevilla (Espanha).
Mesmo com a diversidade de campos científicos apresentados e a relevância temática, poucas pessoas acompanharam o ciclo de palestras e debates. Para a professora do IAG, Aldagiza Formaro, o que mais decepciona é a fraca presença de jovens, principalmente dos alunos de pós-graduação, que deveriam ser os mais interessados em participar.
No entanto, alguns alunos que estavam presentes argumentaram que a divulgação das Redes Temáticas foi precária, o que propiciou a baixa freqüência. Somente alguns professores e alunos de pós-graduação receberam e-mail avisando sobre o evento. Um aluno do Instituto de Matemática e Estatística (IME) disse que só descobriu o workshop por causa de um amigo seu que estuda no IAG.
Além disso, havia poucas sinalizações e informações dispostas nas faculdades onde ocorreu a rede temática. Na FEA, por exemplo, não havia nenhum cartaz na entrada indicando o local do evento. Mesmo nas unidades que tiveram representação, poucos alunos sabiam das Redes Temáticas.
Outro aspecto comentado foi a ausência de autoridades de fora da USP no workshop. O mesmo aluno do IME que comentou sobre como descobriu o evento questionou se os governos estatal e federal estão interessados com a discussão dos temas e planos relacionados, visto que nenhum representante deles participou da rede temática.