São Paulo (AUN - USP) - A incidência de cárie precoce na infância e a presença da figura materna no lar estão relacionadas de forma contundente. A predisposição não está no fato da mãe influenciar nos hábitos alimentares do filho, e sim numa menor renda da família. A pesquisa mostrou que 60% das crianças com mães trabalhadoras não desenvolvem a cárie. A explicação para o fato foi a renda: quanto maior a arrecadação da família, maior a possibilidade deste núcleo ir ao dentista. Outra hipótese é de que as crianças teriam que ficar mais tempo nas creches e/ou escolas, o que traz em seu bojo mais rigor higiênico e alimentar. Mães com mais de 30 anos também foram apontadas como fator de proteção contra a cárie precoce.
A pesquisa tem o escopo de identificar o quanto as doenças e as desordens bucais afetam crianças com até seis anos de idade e como os seus pais atuam nessas situações. Jenny Haydée Abanto Alvarez, autora do projeto, diz que “os indicadores clínicos têm sido restritos à presença e/ou ausência de doenças bucais, sem levar em conta o quanto eles afetam a qualidade de vida do paciente”. Ela ressaltou que desde 2000 realizaram-se muitos estudos com o mote qualidade de vida e saúde bucal, contudo, eles são direcionados para adultos e idosos. Segundo a pesquisadora, há somente dois trabalhos sobre o tema em toda a literatura acadêmica.
Sociabilidade
Foram 260 crianças entrevistadas bem como seus pais. Todas elas tinham de dois à seis anos e nunca haviam sido submetidas a um tratamento odontológico. Procurou-se saber quais dos três vieses da pesquisa (cárie, trauma, má oclusão) altera de forma mais patente o cotidiano das partes atingidas. Constatou-se que a grande maioria das mazelas está relacionada à carie.
As crianças que desenvolvem essa doença de maneira precoce estão sujeitas à dificuldade de mastigação, perda do apetite, de peso, de sono e até casos de irritabilidade. Quanto aos pais; o aborrecimento e o cansaço foram os efeitos mais respondidos. Uma questão pontual chamou atenção: era perguntado se a criança tinha deixado de sorrir ou conversar com os colegas em algum momento e a resposta afirmativa atingiu boa parcela dos entrevistados. Isso é preocupante, porque, segundo a psicologia do desenvolvimento infantil as crianças passam a “tomar noção de si” aproximadamente aos seis anos.
O resultado final concluiu que “conforme o aumento da idade das crianças, das aglomerações familiares, a baixa renda e a presença da mãe no lar” contribuem de maneira capital para o aparecimento da cárie precoce. Os traumatismos não tiveram impacto na pesquisa, por se tratarem de lesões leves. A má oclusão também não teve impacto importante; uma vez que esses distúrbios estão relacionados à sucção não nutritiva, como a chupeta, por exemplo, e passam despercebidas do contexto infantil.