ISSN 2359-5191

13/11/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 23 - Educação - Faculdade de Saúde Pública
Universitários negligenciam risco de gravidez e contração de DSTs

São Paulo (AUN - USP) - Analisar o comportamento reprodutivo dos jovens heterossexuais da Universidade de São Paulo, focando no tema da contracepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da fecundidade foi o objetivo de Kátia Pirotta, recém-doutora pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Com a tese “Não há guarda-chuva contra o amor”, a socióloga mostrou que, ao contrário do que muitos pensavam, os paradoxos da sociedade brasileira em relação à anticoncepção continuam evidentes entre os estudantes de universidades públicas.

Kátia dividiu sua pesquisa em duas fases, no ano de 2000. Em um primeiro momento, um grupo de 952 alunos da graduação foi entrevistado, sobre suas atividades sexuais e escolha de métodos contraceptivos. Mais tarde, 33 voluntários da primeira pesquisa foram analisados mais profundamente, fornecendo, portanto, amostragens qualitativas e resultados que puderam ser interpretados.

A pesquisa demonstrou que o uso de camisinha é ainda o método mais utilizado entre os estudantes em sua primeira relação sexual. 55,3% dos homens solteiros do grupo recorriam à camisinha em suas atividades, contra 29,2% das mulheres.Contudo, o comportamento geral dos universitários está muito aquém do que a sociedade espera de uma elite estudantil. Perguntados, em seguida, se o uso era constante, apenas a metade confirmou.Kátia ressalta que “o fato dos universitários repetirem um comportamento da sociedade (negligência e escamoteamento do risco de doenças), coloca a sociedade em xeque”.O próprio Estado não criou as condições para um maior esclarecimento e uma efetiva melhora da situação (educacional e de saúde).”

Termômetro para o amor
O que pôde ser aferido pelos depoimentos dos jovens na segunda fase é que a substituição ou o abandono da camisinha como contraceptivo dá-se conforme os relacionamentos se estabilizam, rumo a algo mais constante. O perigo de contração de doenças sexualmente transmissíveis é relativizado.“A camisinha é um signo de que a confiança entre os parceiros não é total e a continuidade representa um sinal negativo quanto à entrega completa entre os parceiros”, afirma Kátia em sua tese.

Kátia percebeu também que os universitários também são alvo de descuidos e erros e quando uma gravidez acontece (no caso, 4% dos entrevistados disseram ter passado por uma gestação), o aborto provocado é bem aceito para finalizar a concepção mal-vinda. Métodos de baixa eficácia, como o coito interrompido e a “tabelinha” ainda são recorridos.

Homem X Mulher
No decorrer das pesquisas, ficou claro que o conceito de gênero ainda pontua muito dos discursos dos universitários quando o assunto é comportamento reprodutivo. O pequeno número de homens jovens que referiram o médico na escolha do contraceptivo indica a falta de políticas públicas para promoção da igualdade de gêneros nesse tema. A fatia representada pelos homens representa bem o processo discriminatório de rotulações diante da regulação da fecundidade, etc.

Contudo, observa-se uma convergência entre o número ideal de filhos e a taxa de fecundidade total. Além disso, no grupo pesquisado, a despeito de outros estudos, o desejo de iniciar a vida sexual num relacionamento com vínculos afetivos indica que os jovens masculinos almejam aproximar-se de forma mais igualitária do universo feminino.

A tese de Kátia analisa de forma referencial um dos aspectos da juventude evolutiva brasileira. O texto na íntegra está disponível na Faculdade de Saúde Pública da USP.

Mais informações com Kátia Pirotta pelo e-mail kpirotta@usp.br.

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