São Paulo (AUN - USP) - Uma simples mistura de soro fisiológico e diurético impede a morte de um bovino intoxicado por amônia. A ação é eficaz: hidrata o boi e elimina a toxina do sangue. O envenenamento por amônia mata em média cerca de 200 bovinos por mês no país. Ele atinge animais de criação extensiva, que se alimentam principalmente de capim. No inverno, o capim fica pobre em proteínas, por isso, nessa época, costuma-se enriquecer a dieta com uréia, que substitui a proteína em falta.
“Entretanto, se a uréia for oferecida em demasia ou de forma incorreta, ela pode ser transformada, na pança do bovino, em amônia”, afirma o autor do estudo, o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP Enrico Lippi Ortolani, veterinário do Departamento de Clínica Médica. Ele salienta que a alternativa é “barata e de fácil acesso” a qualquer criador de bovinos.
A solução deve ser injetada diretamente no sangue, assim que os sintomas de intoxicação forem identificados. “Se a ação não for rápida, em questão de minutos pode-se perder o animal”, afirma o pesquisador. Os sintomas aparecem conforme a evolução da intoxicação: mudança de comportamento – o bovino fica inquieto –; tremor muscular; dificuldade em se locomover; convulsões. O animal fica desidratado e cada vez mais fraco, podendo morrer em menos de duas horas.
O tratamento usual para o envenenamento é dar ao animal vinagre ou o ácido acético, que bloqueiam a absorção da amônia pelo sangue. Mas, segundo Ortolani, em 90% dos casos os animais morrem mesmo com esse cuidado, pois o sangue do bovino já contém muita amônia.
Solução simples, rápida e barata
O estudo, desenvolvido este ano, utilizou 16 bovinos, analisados separadamente sob o mesmo procedimento, em uma freqüência de dois por semana. Neles foi injetada diretamente no sangue uma solução contendo amônia. Assim, também não foi preciso o vinagre, pois a etapa de absorção foi eliminada. A injeção de amônia foi interrompida quando os sintomas mais graves surgiram.
Observou-se que quanto mais o bovino urinasse, maior era a quantidade de amônia necessária para que ele apresentasse convulsão. Grande parte da amônia era eliminada pela urina. A equipe de Enrico também percebeu que a “medida de intoxicação” foi individual. “Já se tinha a idéia de que havia respostas individuais dos bovinos ao envenenamento, mas é a primeira vez que se consegue provar e conhecer a causa disso na prática”, diz o veterinário.
Com estas informações, testou-se o tratamento com uso de uma solução, dividindo os bovinos em dois grupos, o experimental e o controle, no qual não foi feito tratamento. Para o grupo experimental foi injetada a solução diretamente na veia, com 30 mililitros de soro fisiológico por quilo do animal – para corrigir a desidratação e aumentar a eliminação de urina – e 265 miligramas de diurético furosemida, para diminuir o edema pulmonar e também aumentar a produção de urina.
O grupo experimental tratado reagiu em cerca de 40 a 50 minutos. “Mesmo animais que já estavam deitados voltaram a comer e logo recuperaram as forças. A ação do hidratante e do diurético fez com que 40% da amônia fosse eliminada pela urina”, relata Ortolani. Em três horas, desde o início da injeção de amônia, o grupo já estava totalmente reabilitado. O grupo controle teve de ser recuperado com urgência ao fim do experimento, para que não morresse.
Segundo o veterinário, a melhor forma de manter a criação saudável ainda é dosar com atenção a ingestão de uréia. “A vantagem da pesquisa é que, em caso de intoxicação, o criador não correrá mais o risco de perder animais.” O pesquisador afirma que o método pode ser utilizado em qualquer ruminante – como cabra, ovelha, carneiro ou búfalo – e está se concentrando em pesquisas para tornar a alternativa ainda mais eficaz.