São Paulo (AUN - USP) - Durante um ano em curso que incluiu aulas teóricas e atividades práticas, seis alunos da Escola Estadual Patriarca da Independência (Vinhedo-SP) tiveram a oportunidade de participar do programa de pré-iniciação científica da USP com temas sobre Astronomia. Com o programa, essa foi a primeira vez que eles puderam lidar com conceitos astronômicos aplicados e, para a maioria, foi o primeiro contato que tiveram com a USP e seus docentes.
Quanto à experiência que tiraram com o curso, os alunos disseram que gostaram dele, principalmente das atividades práticas, como a construção de luneta com materiais simples, e das visitas feitas aos telescópios de Valinhos e Atibaia. Eles também destacam que o curso lhes permitiu ter uma visão mais clara do que é estudado em Astronomia, além de atiçar ainda mais a curiosidade que tinham do tema.
Adrielli Pereira, Ana Paula Benassi, Cíntia Tomaz, Bruna dos Santos, Emerson Medeiros e Beatriz Barbosa, todos alunos do Ensino Médio, saiam do colégio às 12h30 e chegavam no Campus Butantã da USP às 14 horas, onde ficavam por quase três horas fazendo o curso. Nas aulas com os professores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG/USP), aprendiam conceitos e como usar programas de computador utilizados por astrônomos.
Vera Pereira e Jane Pacheco, professoras do IAG e coordenadoras de um dos grupos, disseram que, apesar da complexidade dos temas apresentados, os estudantes foram muito esforçados para acompanhar o curso.A professora Vera destaca a seriedade dos alunos, que se aplicavam para entender o que aprendiam, o que lhes permitiu desenvolver um espírito crítico.
Já a professora Jane enfatiza a maturidade dos alunos em acompanhar as aulas, as quais lhe pareciam mais com atividades práticas. Nesse sentido, Jane afirma que as atividades propostas no curso mostraram aos alunos como se aplicam muitas das teorias aprendidas na escola. “Os alunos aprenderam a transpor conceitos”, diz a professora e exemplifica: “Eles tinham o logaritmo (na escola) como uma coisa que serve para nada. Mas na necessidade de aplicar, por exemplo, para preparar o contraste para uma imagem astronômica, usando escala logarítmica, eles entenderam melhor para que serve o logaritmo”.
Ao longo do curso, os alunos fizeram observações nos telescópio do Observatório de Valinhos e desenvolveram atividades propostas pelas professoras do IAG. Algumas delas foram apresentadas na formatura do programa, em outubro, das quais as apresentadas por Adrielli e Ana Paula foram premiadas (ver mais em: http://www.usp.br/aun/_reeng/materia.php?cod_materia=0907282).
Acompanhamento e os alunos
Para auxiliar os alunos durante a pré-iniciação científica, Maria Clara Amon, professora de Física da escola Patriarca da Independência, acompanhou os alunos durante todo o curso. Antes mesmo dos seis estudantes saberem do programa da USP, Maria Clara se informou com a escola em que trabalha e pesquisou no site do IAG os cursos oferecidos no instituto relacionados ao programa. Depois, contam os alunos, ela os convidou para participar.
A professora teve uma atuação ativa, seja na ajuda com a explicação dos conceitos, até o aprofundamento de conhecimentos matemáticos e físicos aprendidos na escola que eram aplicados no curso. Tanto Vera e Jane como os alunos elogiaram muito Maria Clara, enfatizando a sua disposição. Emerson disse que a professora se preocupou bastante para que todos conseguissem acompanhar o curso: “Se a gente estivesse com alguma dúvida ou se ela percebesse que a gente tinha alguma dúvida, ela já perguntava: ‘Ó, você entendeu isso?’, ‘Você tem alguma pergunta?’”.
Apesar de todos os alunos terem feito o programa no IAG, eles foram divididos em dois grupos. Beatriz compartilhou as visitas com seus colegas, mas participou sozinha de curso com a professora do IAG, Zulema Abraham. Beatriz estudou e trabalhou com temas mais abstratos, como a verificação de gráficos e planilhas para determinar a radiação de uma estrela em ondas de rádio. Mesmo lidando sozinha com temas difíceis, a aluna disse que prefere fazer trabalhos individualmente e, por isso, acha que não teve muitas dificuldades nesse sentido.
Os outros cinco alunos formaram o outro grupo, coordenado por Vera e Jane. Com exceção de Adrielli, os outros não conheciam os estudos feitos em Astronomia. Alguns fizeram o curso mais por curiosidade, como Ana Paula, que, no final, disse ter aproveitado muito as aulas. Já Adrielli gostava de Astronomia desde a 5ª série do Ensino Fundamental, conta ela, quando aprendeu sobre os planetas em Geografia. Na 7ª série, entrou no Projeto Telescópio nas Escolas (mais informações do projeto em: http://www.telescopiosnaescola.pro.br/ argus/solicitacao.php) e aprendeu ainda mais sobre a área científica. Ao falar sobre seu planejamento após a pré-iniciação científica, Adrielli afirmou que pretende se formar em Astronomia.
‘Diário de bordo’
Conforme faziam o curso, os alunos faziam um relatório do que aprendiam e da experiência que tinham cada dia. Idéia sugerida pela professora Jane, o relatório foi nomeado “diário de bordo” e foi bem acatado pelos alunos. Além disso, a professora também pediu que os alunos pusessem no diário as dificuldades que sentiam e as sugestões para melhorar o curso.
Uma das críticas recorrentes dos alunos foi a dificuldade da linguagem das apostilas que liam para acompanhar as atividades. “Nosso material era de aluno (de graduação) e de professor. Tinha algumas dificuldades na escrita, porque (o material) era para alunos que já estavam fazendo graduação”, conta Bruna. Outra dificuldade que sentiram no começo foi entender todos os conceitos passados pelos professores. Jane acatou essas críticas e confessa que, como nunca teve uma experiência similar como a do programa, sentiu dificuldade em montar um curso que se adequasse a estudantes de Ensino Médio.
Sobre o programa como um todo, os alunos criticaram a falta de opções, visto que a USP ofereceu poucos cursos e não deu espaço para os estudantes sugerirem o que gostariam de fazer. Maria Clara corrobora essa crítica, adicionando que a forma como foram selecionados os alunos também restringiu o programa. A professora conta que, antes de irem atrás dos alunos interessados, as escolas tinham que selecioná-los pelas notas. Para ela, o programa poderia ter sido mais abrangente nesse sentido, sem colocar a nota como prioridade. (mais informações da pré-iniciação científica da USP em: http://www.usp.br/prp/preic.html)