São Paulo (AUN - USP) - Ao contrário do que diz a crença popular, os campos eletromagnéticos, que podem ser gerados por celulares, não apresentam risco significante para os portadores de implantes cardíacos. É o que comprova o pesquisador polonês Andrzej Krawczik, que apresentou o seu trabalho na III Conferência Internacional sobre Campos Eletromagnéticos, Saúde e Meio Ambiente, na Escola Politécnica da USP.
Fabricantes do dispositivo e médicos insistem em alertar os perigos dos campos para os pacientes que utilizam o marcapasso. O aparelho é implantado para regular os batimentos do coração, através de impulsos elétricos artificiais, de pessoas que apresentam algum tipo de disfunção cardíaca. “Segundo as regulamentações européias, também adotadas pelos fabricantes, os portadores deveriam manter a distância de três metros de seus celulares”, explica Krawczik.
Para testar a validade dessas indicações, o pesquisador realizou quatro tipos de experiência sobre a influência dos campos eletromagnéticos mais fracos, aos quais as pessoas são normalmente expostas: uma simulação computacional, um teste somente com o dispositivo isolado (in vitro), uma simulação de corpo humano (in vitro in phantom) e, finalmente, com pacientes voluntários (in vivo). No geral, as simulações levaram à conclusão de que não há interferência significativa no funcionamento do aparelho a ponto de colocar em risco a vida dos pacientes. Os voluntários participantes da pesquisa foram monitorados por médicos em tempo integral, durante e 24 horas após.
No entanto, ”Não existe a certeza de que é zero”, segundo o pesquisador. Os experimentos realizados in vitro, quando utilizado um campo de maior intensidade, demonstraram falhas no desempenho do aparelho. Porém, essas são condições excepcionais, às quais somente um determinado grupo de pessoas estariam expostas, como trabalhadores de companhias elétricas ou pacientes submetidos à uma terapia magnética. “Nesses casos, os pacientes são devidamente orientados. Mas podemos afirmar que a grande maioria dos que possuem implantes não corre risco”, diz Krawczik.
O principal objetivo do estudo era promover a conscientização do público portador de marcapassos, seus familiares e médicos. Para isso, o projeto inclui a criação de um website para esclarecer dúvidas e acabar com os mitos em torno do assunto. O pesquisador afirma: “Os pacientes que necessitam de implante, além de lidar com a doença, têm que se acostumar com a idéia de possuir, e até mesmo depender de um dispositivo. Nós procuramos esclarecer que eles podem viver uma vida normal, sem maiores preocupações”.