São Paulo (AUN - USP) - A psiquiatra da FMUSP Márcia Scazufca encontrou a média da incidência de psicoses em São Paulo: 16 por 100 mil pessoas, entre 18 e 64 anos. “É um número baixo comparado a outros países”, analisa a pesquisadora. O que mais a surpreendeu, entretanto, foi a baixa duração da doença sem tratamento. Ou seja, do tempo em que a pessoa passa com os sintomas e sem procurar um médico. O período encontrado foi uma média de apenas quatro semanas, um dos mais baixos do mundo.

A pesquisa foi realizada com 2072 idosos de baixa renda da região oeste de São Paulo, sendo 1500 deles cobertos pelo Projeto Região Oeste da USP, inclusive os dois terços dos moradores da favela São Remo, localizada nas vizinhanças da Cidade Universitária. Dela, tirou-se uma prevalência de 5% de demência e também a mesma porcentagem em depressão nos entrevistados.

A maior parte deles era mais velha, com menor escolaridade e renda. Embora a demência não tenha cura, há sempre um jeito de melhorar a qualidade de vida do idoso demente. E a depressão, pelo contrário, já é totalmente tratável.

O Projeto Região Oeste pretende implantar, gradativamente, a estratégia de saúde da família na população da Zona Oeste de São Paulo. A região foi escolhida graças à sua proximidade com o Hospital Universitário, uma das unidades de ensino básicas à formação dos seus estudantes.

Atualmente há gestão de três unidades: Jardim São Jorge, Vila Dalva e Boa Vista, essa com cobertura total dos seus 16 mil e 8oo habitantes. Até 2012, a faculdade pretende gerir, junto com o financiamento da Secretaria Municipal de Saúde, todas as unidades da região. Os alunos já freqüentam aquelas que estão funcionando.

O projeto tem, justamente como um dos seus objetivos, treinar os alunos dos primeiro, terceiro e quinto anos da FMUSP, bem como os residentes. Pretende, ainda, construir três Núcleos de Apoio à Saúde da Família, com atividades psiquiátricas, 20 unidades de saúde bucal – que servirão de ensino à faculdade de odontologia da USP – e 51 equipes responsáveis, cada uma, por uma população.

A psiquiatra Márcia Scazufca realizou a chamada “investigações em saúde mental na estratégia de saúde da família: da observação à intervenção”, em que analisou a zona atendida pelo Projeto Região Oeste. O objetivo da pesquisa foi o de identificar os transtornos mentais da população coberta pelo programa e aqueles que foram ou estavam sendo, de fato, diagnosticados e tratados por ele.

De conhecimento dos resultados de sua pesquisa, a psiquiatra buscou nos cadastros da saúde da família, quantos dos idosos reconhecidos haviam sido identificados e tratados pelo projeto. Cerca de 75% deles disseram ter tido contato com o programa, no último ano. Sendo que 25% dos dementes haviam sido diagnosticados e apenas 5% dos depressivos. Desses, todos recebiam tratamento.

Márcia Scazufca pretende continuar seus estudos analisando se o domicílio e a área de residência estão associados a prevalência das doenças. Ela acredita em uma intervenção mais eficiente do projeto e do programa saúde da família em si. “É preciso envolver a família do idoso, do doente, junto do trabalho do agente comunitário. Os pacientes usam mais serviços e sofrem de maior incapacitação funcional, como num ciclo. Educação, cuidado, técnicas de ativação de comportamento e solução de problemas são essenciais”.